31 de mai. de 2009

Soneto das datas (republicando)


Há datas que não gosto,

Gostos que eu não dato
Gestos que não acato
Postos onde me não posto.

Há vezes que não tenho vez
E viezes que me soam vãos..
Sons que me repetem nãos,
Vozes que me dão surdez.

Ruídos para o ouvido mouco,
Tanto grito e só o silêncio apraz...
Tantas datas que dizem pouco!

Em suma, já não sou capaz
De esconder que vivo louco
Por um romance ao som da paz.

(pelas datas de junho)

28 de mai. de 2009

TEMPO



Não pergunte pelas águas que passaram nos moinhos da vida.

Águas são moléculas inamarráveis, como o tempo

Que perpassa os mesmos moinhos

Que debulham nossos anos,

Encurtam nossos caminhos

E moem nossos enganos.


Não pergunte pelos ventos que giraram pás de moinhos.

Ventos são etéreos, como o mistério da vida,

Essa essência que valorizamos,

Como os perfumes que sentimos,

E que desaparecem, como ciganos,

Nas vielas de seus destinos.

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26 de mai. de 2009

POMBAS E SONHOS

Era menino quando aprendi, e até decorei, pela insistência de Mestres escolares (por isso, Mestres, com "EME grandão"), esses versos, declamados em festas escolares, datas comemorativas, momentos de alegria e emoção. Porém, confesso que o guardei na memória como um "poema às pombas", sem valorizar a ênfase à liberdade e aos sonhos nossos de cada dia que está nas linhas e entrelinhas.
Hoje, tempos e quilômetros depois, releio "as pombas" e me dou conta que o poeta foi muito além e que sua percepção que os sonhos voam de nossos corações (como as pombas dos pombais), porém não retornam (como as pombas aos pombais), mostra uma alma vivida e madura, capaz de ter aprendido que os sonhos são refeitos a cada momento, sempre que mudam as pessoas, as circunstâncias.
Raimundo Correia, poeta maranhense (dado à luz a bordo de um navio ancorado na costa do Maranhão), nasceu curiosamente em um 13 de maio, 28 anos antes de essa data marcar o dia da libertação dos escravos. Esse seu louvor à liberdade dos sonhos e das pombas,
visto de forma mística, ou poética – o mais provável – parece coisa do fado. Nasceu no mar e escolheu voar... Como se Deus tivesse marcado o DNA do poeta com a louvação ao livre vôo. Das pombas e dos sonhos! Dos coisas materiais e das impalpáveis.
Alguns sonhos não podem ser revividos; outros, nem mereciam ter sido sonhados, mas não faz sentido parar de sonhar ou ter medo de deixar cada sonho voar, como voa cada pomba despertada.

25 de mai. de 2009

Mulheres que fumam

Longe de mim pegar no pé de fumantes, longe ... Afinal, quase toda minha vida fui um deles, isto é, um fumante inveterado (invertebrado é a nona!) daqueles que queimam até 80 cigarros num dia. Não serão meros 5 anos de abstinência de nicotina que me transformarão em pregador do inferno para os fumantes. Ou para AS fumantes! Mas já faz algum tempo que observei, de forma empírica, que hoje há muito mais mulheres do que homens fumando e registrei aqui essa percepção.
Aproxima-se o 31 de maio, o “Dia Mundial Sem Tabaco”, e o Yahoo já antecipa, sob o título “Mulheres são mais afetadas pelo cigarro”, algumas noticias preocupantes, como o fato que elas (as mulheres) já são maioria entre as vítimas fatais do câncer de pulmão - doença diretamente ligada ao tabagismo.
Outra:“as estatísticas mostram que, entre 1990 e 2002, o câncer de pulmão saltou de quarto para segundo lugar no ranking dos tumores que mais matam pacientes do sexo feminino no Brasil, perdendo apenas para o câncer de mama”, segundo o oncologista João Nunes, coordenador do serviço e da residência em oncologia do Hospital Universitário de Brasília. Aliás, o mesmo doutor, em um vislumbre sociológico, tem a opinião que "o que vemos hoje é o resultado das estratégias estabelecidas pela indústria do tabaco no passado, com o objetivo de seduzir o público feminino". Até seis anos atrás na publicidade de cigarros (então proibida no Brasil) mulheres “independentes” figuravam nos anúncios, vinculando a emancipação ao hábito de fumar. Assim como Hollywood ensinara os homens a fumar, décadas atrás, chegou a vez das mulheres quando se aperfeiçoava o “womens lib”... E os homens lentamente abandonavam esse vício!

Tem muito mais desgraça, mas um ex-fumante sabe que a maioria das mulheres fumantes já parou de ler antes de chegar aqui. Não há fumante que aceite ler com tranqüilidade sobre os malefícios do ato de fumar. Não adianta falar nem do dente amarelo ou do desperdício do perfume ante o odor do tabaco. Mas sabe o que eu acho hoje? Feio! E problema de cada um...
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SHOW EM SI-MONAL

“Moça um dia surgiu, na dança da vida e apareceu sem par
Grita, branca na trança e saia da cor do mar!
Fez um passo e girou, na roda tomou lugar
E eu de tolo chorei por ter já na dança um par...”

Essa canção, entoada por um romântico Wilson Simonal, dava a uma composição singela como essa (de Antonio Gaspar) a dose certa de emoção própria do "fim de tarde" da – talvez – última geração romântica. Sem ser menor, contrastava com o seu famoso e prodigioso swing que agitava auditórios imensos os quais regia ao som de País Tropical (Mó, num pá tropí...), Sá Marina, Meu Limão Meu Limoeiro. Um jeito pessoal, um chansonnière , interprete dono do palco e do público como poucos no mundo. Sammy Davis Jr, em alguns momentos, e Maurice Chevalier, entre pouquíssimos outros, podem ser considerados do mesmo gênero.
Nunca o assisti ao vivo (e lamento isso). Só na TV, inclusive o show em Si-Monal
No artigo “Ninguém sabe o duro que dei”, Reinaldo Azevedo lembra de um inesquecível dueto de Simonal com Sarah Vaughan – então a maior do mundo - ou sua habilidade em reger um coro de 30 mil vozes no Maracanãzinho, como algumas pistas do seu talento.
De repente uma denúncia e um infinito boato: Simonal seria um dedo-duro, um apoiador da ditadura que governava o País, alguém que era capaz de mandar torturar a própria esposa, por causa de...mil versões. Nunca confirmadas, mas Simona foi pré-julgado, pré-condenado e pré-executado! O jornal O Pasquim, tablóide carioca que desafiava a ditadura e fazia graça, arrasou Wilson Simonal que ficou proscrito da mídia, dos shows e – o que é pior – do respeito das pessoas. Eu entre elas...
Pois entra agora em grande circuito o filme ‘NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI’, dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, que relata sua ascensão e sua estrondosa queda. Ainda não vi e confesso que temo vê-lo, por intuir que vou perder o respeito por um monte de gente que durante anos admirei – por conta dos quais abdiquei inclusive do som de Simonal – apesar de o filme não fazer julgamentos e limitar-se a ouvir as partes. E, claro, vou ficar pê da vida comigo mesmo.
Quer saber? Vou sim! Depois eu conto.

Mas a moça seguiu na dança e nem viu que suspirei de dor
E me fiz cantador, por modo de não chorar
Ah! se o Dono do tempo houvesse por bem voltar

23 de mai. de 2009

Nórinho Shioga pilota Boeingão

No mês passado andei dando uns cascudos na Gol. (Veja aqui, parte 1 e 2). Ontem, 6a.feira, 22.05.09, lá estava eu, acompanhando alguns colegas mais graduados do BC, ao cabo de um dia de trabalho em SP, entrando uma vez mais num novissimo boeing da Gol-Varig, pintado com as cores da Varig.
Um passo dentro do avião e o comandante aponta para mim dizendo: "eu o conheço"! Sem nenhuma esperança de reconhecer o simpático japa balbuciei algo idiota como "que bom!" e êle continuou: "Voce é o Emilio... Eu sou o Nório, lá de Ipaussu". Pronto, reconheci o "figura", o Nório Alberto, pessoa querida, filho de pessoas queridas: Vera e Nório Shioga, este meu professor de ciências do 1o. e 2o. grau, já falecido.

O comandante, mais novo que eu, aprendi a admirar pela sua obstinação e por sua luta tenaz para chegar ao posto que ora alcançou: comandante de Boeing 737. E sei que sua luta continua para permanecer ou evoluir nesse rumo. E neste ramo... Convidou-me à cabine onde falamos rapidamente de familia, Ipaussu, saudades, situação atual de cada um. E ficamos na esperança de novos encontros.


Curiosidade: Há registros - reais - de pelo menos uma visita de Santos Dumont a Ipaussu
, no inicio do século XX. Anos depois, o Basilinho (leia sobre ele aqui) é engenheiro da Embraer e o Shioga é comandante de boeing (sem piadas sobre pilotos japoneses, por favor. Os falados são os de automóveis de corrida, não os de aviões). Terá O Sr. Alberto Santos Dumont impregnado a terra de idéias voadoras?
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19 de mai. de 2009

ORAÇÃO

(tradicional - e belo - corinho da igreja cristã reformada, baseado em Jeremias 18:6: "Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel").

17 de mai. de 2009

Hogwarts


Anda difícil achar Hogwarts neste Planalto Central, na solidão do cerrado; mas desistir não vou, porque para encontrar minhas fadas, ou meus encantamentos, preciso do meu castelo. Claro que não sou rei, nem sou do círculo da nobreza, mas em encontrando Hogwarts, qualquer barraco será, magicamente, um castelo. Com Harry ou sem Potter!

15 de mai. de 2009

REAÇÕES AO ATO DE REGRESSAR

(reduzido em 20.05.09)
A "Sabedoria Popular" recomenda
não retornar a um lugar onde se foi feliz. Mas "voltar" é um ato poderoso que demanda coragem e provoca medo, ou "demanda medo e provoca coragem".
Há quem condene o "recomeçar" por lembrar dos recomeços nos tempos de colégio em que a reprovação em uma matéria qualquer levava à desagradável repetência. Mas não é disso que se trata, porque os recomeços a que chegamos em certas etapas da vida, exigem tudo o que aprendemos antes... Ou seja, recomeçar não significa ter sido reprovado! Pode ser demanda da vida, pode ser a consciência que se pode fazer muito mais bem feito se aceitamos as próprias deficiências que o tempo nos ensina a reconhecer.
No seu recomeço, muitas caras novas vão estranhá-lo, vê-lo como intruso. Espere isso e tenha paciência. Outros temerão seu conhecimento (como se isso fosse defeito) e, inseguros, podem ser pedras de tropeço... há que se lhes dar a chance de aprender a ouví-lo. Haverá desdouro: "voltou porque fracassou" (a analogia com o reprovado na escola); haverá mau agouro: "voltou porque enricou e agora vem se encostar no passado".
Pessoas são organismos complicados, não totalmente compreendidos,
nem com o genoma devidamente sequenciado do lado de dentro do cérebro, nas emoções!
Mas, felizmente, a maioria lhe dá um abraço gostoso quando diz: "que bom que você voltou"!
Pronto: aprovado!
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FADA DO CERRADO

Ainda não reencontrei as fadas do cerrado!
Mas sei que estão por ai, à espreita e, dia desses, ganho - mesmo sem merecer - seu inefável abraço, seu beijo sapeca e o cafuné mais docinho!
Porque as fadas são assim, pura dádiva, sutil acalanto...
Mágico encontro que completará meus desígnios, culminará meu fado e fará valer a pena cada dor e cada engano, cada desatino e cada calo... nessa alma ralada!
Fada, fada, fada!!!

Olha, encantada que acarinho, flor do sonho, se apresse que o inverno já rasga as serras do Sul...
Mesmo que ao cerrado não traga neve ou geada, mas com ele vem a sêca fria.
Estação que vou carecer de seu encanto vestindo meu peito,
Como um poncho tecido em beijos
E bordado de ternura de fada...
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11 de mai. de 2009

Bá e Mara - Avós...

O Basilio (Bá, Basilinho, Porcão, Puskas, etc.) é um desses amigos imprescindíveis. Já contei dele aqui e de seu casamento com a Mara (ambos na foto), cujo nome - Maria Conceição - ele só soube quase na hora do "sim".
Pois acabo de receber dele o seguinte e-mail: " Nasceu no Estado do Tennessee - USA, dia 07/05 (no dia do aniversário da Miloca -), a "Rainha das Americas", neta do Basilio!!Eu não sabia que uma neta deixava voce tonto, bobo e chorão!!".

Não entendi: bobo e chorão ele já era, a diferença é que agora é avô ( "Vovô Porcãooooooooooo!") da Larissa (na foto com os pais Maria e Adriano).
Deus abençõe a todos, especialmente a Larissa.

É... eu fico assim meio Tio-Avô da Larissa... Com orgulho!
[Para Registro: Mara é de Bernardino de Campos (SP), como eu, e o Basilio é de Ipauçu (SP), terra onde vivi dos 2 aos 18 anos]

10 de mai. de 2009

Dilma e Felicidade

Dia das mães, 10 de maio, Correio Braziliense: Dilma Rosset tem enorme destaque de primeira página e uma entrevista de duas páginas inteiras, coloridas de fotos colhidas com esmero, suavizando sua imagem, até pouco meses atrás carregadas de expressões mais duras. E, ao que tudo indica, sua mudança de ênfase reflete, sim, a condição de candidata in pectoris do presidente Lula e também, muito provavelmente, o resultado de mil reflexões - e as mudanças físicas e psicológicas - que ora lhe impõe um inesperado e indesejado linfoma.
No texto, destacam-se seus papéis como mulher, mãe, filha, seu sonho frustado de ter tido mais filhos; seu reconhecimento da condição de devedora de mimos à sua própria mãe mercê da vida atribulada... No entanto, não foi por citar Dostoivesky que ela chamou minha atenção, mas pela menção a Joãosinho 30 e sua elegia a "ser feliz "como propósito maior de nossa passagem pelo mundo.

Tenho ouvido essa frase ("a gente nasceu para ser feliz") como um mantra nos útimos tempos, no mor das vezes revelando que quem a profere não tem sido feliz, fazendo com que seu brado de alerta seja mais um grito de esperança que uma vivência real. Ou, muitas vezes, para justificar opções não muito respeitadas ("ortodoxas", se quiser), como "aprontar" no Carnaval e depois se justificar com esse mantra da felicidade.
O QUE É SER FELIZ?
Claro que reconheço ter aberto nos meus gragumilhos um milhão de hipóteses. Quem hoje sofre com a gripe suina seria feliz se sarasse; quem tem um linfoma - como a ministra - pode se contentar, e ser feliz, apenas por receber o melhor tratamento - como a própria D.Dilma - e conviver com uma enorme esperança de cura. Ser feliz pode ser sinônimo de passear na Europa, poder consertar os dentes, estudar na Australia, uma plástica no nariz, fazer um safari fotografico na África, namorar a Michelle Pfeifer...

(Adriano, centroavante da Inter de Milão, surpreendeu o mundo ao abrir mão de 500 mil dólares por mês "para ser feliz". Aliás, nos comentários, a maior crítica tem sido ao fato de abrir mão de tanto dinheiro. Ninguém ousa criticar seu desejo de ser feliz.)
Há inúmeras tentativas de definir o "ser feliz". Algumas delas:
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”: Cora Coralina
“O segredo para ser infeliz é ter tempo livre para se preocupar se se é feliz ou não”: George Bernard Shaw
“Não há uma estrada real para a felicidade, mas sim caminhos diferentes. Há quem seja feliz sem coisa nenhuma, enquanto outros são infelizes possuindo tudo”: Luigi Pirandello
“É melhor viver do que ser feliz”: Vinicius de Moraes
"Uma vida feliz é impossível. O máximo que se pode ter é uma vida heróica": Schopenhauer
“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”: Carlos Drummond de Andrade


Não sei concluir, de verdade! Tenho minhas esquisitices. Acho que a alegria, de alguns momentos, definitivamente não é felicidade. A euforia provocada por coisas e momentos não significa necessariamente estar feliz! Ou ser feliz.
E tem mais: não acho a tristeza o "fim do mundo"; há momentos tristes que só existem porque se é feliz.
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9 de mai. de 2009

Catarina e as mães

Este 10 de maio, dia das mães, é dia da Catarina, a Pit, mesmo que ainda não seja mãe: é seu aniversário. Na verdade Pit é meio mãezona da Sininho, uma pequetita Yorkshire, o que me transforma - a contragosto - em avô de cão, ou cadela. Na verdade, duas, já que Anelise e Emilio Neto também tratam a Sapeca como filha.
Deus abençoe as mamães e a Catarina. (Ah! e as cachorrinhas...)

MATURIDADE, AINDA QUE TARDE!

Dona Miloca sempre teve uma atitude extremamente positiva perante a vida. Viúva desde onde minha memória alcança (já que nunca alcançou o "Seu" Lazinho morto prematuramente aos 40 e poucos anos), teve ânimo e força para criar quatro filhos. Todos grandes amigos. Mesmo quando perdeu (perdemos) dois deles - Raposa e Caju - no curto espaço de um mês, também jovens, foi buscar na Fé e na sua maturidade o ânimo necessário para continuar a viver.
Aniversariava em maio, como eu, e foi com surpresa que ao cumprimentá-la pelos 80 anos, pela graça de chegar com saúde a esse marco importante na vida, respondeu-me ao telefone: "A velhice é uma merda, sabe? Muita dor, muita complicação..." Certamente pensava, naquele instante, nas dores das perdas, muito acima daquela que sentia nas costas e nas pernas.
Claro que, em seguida voltou a dar risada, manifestar sua alegria pela minha lembrança em cumprimentá-la (lembrança que era "acordada"a cada ano pelo seu caçula Cruca, dada minha notória falta de memória para datas e nomes), em suma, voltou a ser a Dona Miloca que conhecíamos.
Foi nossa derradeira conversa.
Um mês depois, junto com Lelo, meu cunhado, fui a Ipaussu acompanhar seu enterro.
Haveria muito a dizer sobre Dona Miloca e sua personalidade especial. Mas hoje quando percebo os anos acelerando nas curvas do espaço e no tempero das estações, tento avaliar se tenho agregado maturidade aos meus dias, como Dona MIloca. Se tenho, em medida justa, apoiado os que lutam e combatido - mais que tolerado - os aproveitadores, os desonestos, ladrões de comida e esperança! Os que roubam sonhos e matam futuros!
Se, nas coisas mais simples - e complexas - tenho melhorado, como ser pai, filho, irmão, amigo, colega, blogueiro, cidadão, etc. Se numa perspectiva de vida eterna tenho um saldo positivo. Mesmo sem fazer fortuna, o parâmetro do século XXI para qualidade, inteligência e sucesso.

1 de mai. de 2009

SENNA DE PRIMEIRO DE MAIO

A rotina de aniversariar no outono brasileiro - e sempre no primeiro dia de maio - já passou de meio século. Alguns deles inesquecíveis. O do ano de 1994 foi um desses! Conto um pouco dessa história!
Depois de mal comemorar o aniversário de número 40, resolvêramos fazer uma grande festa para o de número 41, como que a resgatar a alegria que houvera sido roubada no ano anterior (histórias passadas, já moidas e remoidas). Nathan, velho amigo, oferecera sua casa e muitos convidados deveriam chegar a partir de 13 horas para um churrasco, à volta da mesma churrasqueira inaugurada com uma feijoada meses antes (Não me pergunte porque que se inaugura churrasqueira com feijoada...Pergunte ao Nathan). Como nos bons domingos, havia corrida de Formula 1 pela manhã, na Itália, que o Brasil acompanhava de olhos acesos e coração feliz, porque Ayrton dirigia nosso sonho. Eram 11 da manhã quando ele bateu na Tamburello!

Treze horas, as pessoas iam chegando com olhos vermelhos, corpos tensos e palavras contidas. Nosso piloto estava ferido e era grave.

Chopinho, uisquinho, picanha aperitivo e a descontração começou a ganhar o ambiente. Deixa o Ayrton pra lá, blá-blá-blá... Até que alguém noticia: "Morreu Ayrton Senna".

Meu! Imagina a cena! O silêncio era tão alto que doia os tímpanos. Alguns choraram escancaradamente, outros em silêncio... Mas sei que todos choraram. A "festa"continuou, até porque ninguém tinha para onde ir, ou não queria ir pra lado algum. No fundo, todos queriam estar juntos, como que a dividir o fardo da perda.

Foi um Primeiro de Maio, como hoje, 15 anos atrás. Não lamento a festa... lamento a perda do ídolo de uma nação tão carente...
"Coração verde-amarelo
Branco e azul de anil
Morreu na Tamburello
Ayrton Senna do Brasil"


1o. DE MAIO E A ESTRADA MÁGICA

Quando meus filhos eram pequeninos, meus pais moravam no Bairro Paraiso em São Paulo. E sempre que meu pai levava meus filhos a um de seus passeios favoritos (Zoológico, Simba-Safari, Cidade da Criança, casa da Tia, Ibirapuera...) tinham que sair pela Avenida 23 de Maio. E ele convenceu os netos que a 23 de Maio era uma "estrada mágica"que os levava a todos os lugares. Os netos ainda se recordam disso (com saudade!)
Pois bem: quando eu era pequenino havia "parada" no Primeiro de Maio. Bandas e fanfarras em desfile nas ruas e, em seguida, um bolo para comemorar meu aniversário. Por muito tempo acreditei que todas essas festas eram por minha causa, para comemorar meu aniversário... Hoje desconfio seriamente que o mesmo autor da "estrada mágica", uma espécie de Andersen familiar, foi quem me convencera dessa associação entre o desfile na cidade e o meu aniversário.
Mas nada impede de pensar na vida como uma caminhada (muito curta, muito rapida) numa estrada mágica. E os aniversários são apenas estações, uma pausa, um momento de meditação sobre os dois trechos: o já percorrido e o que vem por ai...
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