27 de fev. de 2009

Matou a mãe e não foi ao cinema

Em Brasilia no dia 27 de fevereiro, 19h30m, vi um trecho do "DF-Record", um jornal local da TV Record, quando foi apresentada uma reportagem de um rapaz que matou a mãe a facadas, porque ela lhe negou 50 reais para compra de mais drogas.
Fato corriqueiro, assim como foi corriqueira a conclusão da reporter cujo nome não gravei: "NINGUÉM CONSEGUE ACREDITAR QUE ELE TENHA MATADO A PRÓPRIA MÃE POR CAUSA DE 50 REAIS!!!
Duas tragédias: a primeira, a do filho que mata a mãe. A segunda, a reporter desqualificando o criminoso por causa 'do valor' que teria motivado o crime! A pergunta que fica no ar é: que valor a reporter acharia justo? 500? 5 mil? 50 mil? Se fosse um milhão, tudo bem?
O problema será o valor da "recompensa"? Ou o problema está no fato de um rapaz matar a mãe, qualquer que seja o motivo? Ou ainda, no homicídio em si, mais corriqueiro no Brasil que na faixa de Gaza?
-o-

26 de fev. de 2009

ARTIGO NO ESTADÃO




Como já haviamos contado, no dia 21.02.09 saiu um artigo deste blogueiro no Estadão, versando sobre a crise e a atuação dos bancos, principalmente nos EUA.

Para quem se interessa por leitura desse tipo, basta clicar sobre o "recorte" ai do lado.

24 de fev. de 2009

PORQUE É CARNAVAL...

Não se deixe enganar: sou meio ranzinza (por opção) e não gosto de carnaval. Não quer dizer que não goste de festa, de alegria, mas acho um pavor esse "conceito" de carnaval que dá (pelo menos a alguns) o "direito" de se transformar em uma "nova pessoa" pelo prazo pré-determinado de cinco dias. Um porre de cinco dias, turbinado por drogas (que o cara não usa), sexo com homem, com mulher, com cabrito, com banana-maçã, tudo justificado com o "é carnaval".
Prestenção: não nego a ninguém o direito de ser "assim ou assado" (ema, ema, ema...). Fico chateado quando vejo - e a cena é repetida a toda hora - alguém, reconhecendo algum óbvio exagero, ou desvio, justificar-se com a mágica expressão: "ora, é carnaval". Sei lá, sei lá se a pessoa verdadeira é essa do período de momo, ou aquela que vemos o restante do ano. Olhe, se for uma opção pessoal, há que se respeitar (ema, ema, de novo). Mas se essa pessoa diz que só faz isso "porque é carnaval"; que o carnaval "obriga" isso, ou "permite" isso, vá plantar batata.
Pra completar minha ranzinzisse, não acho certo um país (ainda) pobre parar durante uma semana, logo depois de ter folgas de Natal, Reveillon, férias escolares e outros feriados. Ai, depois de dois meses de certa alienação, mergulha em uma semana de alienação integral antes de voltar "à vida". E a vida, em 2009, está esperando cada um de nós com um problemão, uma crise ainda longe de ser resolvida que vem deixando os paises do hemisfério norte em pânico. O desemprego começa a dar sinal de vida por aqui, depois de ter dominado a cena em muitos países. Quem trabalha (principalmente em multinacionais, financeiras ou não) amanhã quando voltar ao escritório, pode se preocupar.
Infelizmente o resto do mundo (relevante) não carnavalizou, pelo menos não durante uma semana inteira.

LONGE DELA

Assistir ao filme “Longe Dela” (“Away from her”) é uma experiência inquietante, pra dizer o mínimo. Quem é jovem faz algum tempo, como eu, pode entrar em pânico ao se imaginar na situação de qualquer dos dois personagens centrais que compõem um casal, como milhões, que se iniciam na experiência de viver - até morrer - com o mal de Alzheimer. Um caminho (até aqui) sem volta!

Nesse filme de 2007, Julie Christie vive Fiona (nada a ver com Shrek) a esposa que, percebendo a chegada da doença, se faz internar em uma clínica especializada no trato desse tipo de condição, a despeito dos protestos de seu marido Grant (Gordon Pinsent). A cena da despedida é marcante pela dor expressa nos rostos, nos gestos, na "aura" de cada um. Ocorre que, por praxe, a tal clínica proíbe visitas nos primeiros 30 dias do paciente no local e só após este angustiante período de espera seu marido vai visitá-la. Mas Fiona já não tem mais capacidade de reconhecê-lo. E mesmo com todo seu esforço para trazer sua lembrança ao centro da cena de Fiona, nos dias e semanas seguintes, cada vez mais ela mergulha em um novo mundo, no qual seu marido não existe.

Nesse novo mundo, ela se afeiçoa a um paciente com vida quase vegetativa de quem cuida com carinho. Aliás, um carinho que seu marido ainda demanda! Para quem assiste, participa, o amor do marido se revela pungente, profundo. Inicialmente ele toma o caminho do egoísmo, próprio dos amantes, até evoluir e se doar em um inacreditável gesto de desprendimento em favor da felicidade (ou alegria) dela. Um filme feito para pensar na vida real, suas dores, suas belezas escondidas no íntimo de cada um, que surgem em momentos únicos. Um filme especial!

(Esse filme está passando em TV a cabo – telecine – ou pode ser alugado)

22 de fev. de 2009

DO MEU JEITO (MY WAY)

Ainda sou capaz de me emocionar ouvindo MY WAY na voz de Elvis, ou de aplaudir, se a voz for de Frank Sinatra. É uma versão em inglês, de Paul Anka, e como se sabe, nasceu de uma canção francesa "COMME D' HABITUDE de autoria de Claude François e Jacques Revaux, de 1967. Paul não fez uma simples tradução da letra original, mas aproveitou a melodia para desenvolver a teoria segundo a qual cada um de nós pode comandar seu próprio destino e conduzir a vida à sua maneira, seu jeito (way).

Cantada na primeira pessoa, MY WAYcontém as reflexões de alguém, já no fim da vida("And Now the end is near") que afirma não ter arrependimentos das coisas que fez em toda sua existência (" regrets I had a few but - then again - to few to mention").

Confesso ter dificuldades em concordar com isso, porque – sim – me arrependo de muitas coisas que fiz e de muitas que deixei de fazer, mesmo que seja auto-benevolente o suficiente a ponto de atribuir, ora à pouca idade, ora ao pouco amadurecimento, as "bolas foras" ao longo do meu "jogo". E o que é pior, a maioria dos arrependimentos aplicam-se a coisas que fiz "do meu jeito" (my way), ainda que fosse meu jeito bobo de aceitar pressão. Sempre que a “Força Superior” contrariou o meu jeito, não permitiu que acontecesse como eu queria, primeiro me enchi de raiva, mas um tempo depois (ou, muito tempo depois) tive que reconhecer que fora melhor daquele (outro) jeito.

Reconheço, agora pelo menos suas coisas: (1o.) existe um descompasso temporal entre minha ansiedade e o "timing" dos Céus, e (2o.) isso é experiência pessoal, que continua sendo desenvolvida e, fica claro que Deus não lhe nega o livre-arbítrio, mas também deixa que você sinta calor pelo fogo que você acendeu; escuro pela luz que você apagou; frio pelas janelas que você escancarou no inverno do tempo.

Na canção original, os franceses professam quase que exatamente o contrário de Paul Anka, o hábito de fingir, simular, aguentar algumas atitudes ou comportamentos, todos os dias, para deixar a “vida os levar” (Comme d'habitude/ Je vaiz sourire/ Comme d' habitude/ Je vais même rire/ Comme d' habitude/ Enfin je vais vivre/ comme d' habitude..."). Parece medíocre demais, muito fingimento e pouca vida real, como se não gerenciássemos nenhum pedacinho do nosso tempo.

Depois de meio século de vida acho que aprendi, pelo menos, que parte do viver é nossa responsabilidade e que o desajuste entre o meu relógio e o de Deus, não é por que o Dele esteja errado (por mais que eu reclame). Na maior parte das vezes a Vida, ou o Fado, ou Deus, nos leva, porém tem uma parte do processo que é só nossa, exclusivamente nossa, individual.
#
NO YOUTUBE:
MY WAY:
--Elvis Presley -
http://www.youtube.com/watch?v=4HhAcvlCPb4
--Sinatra/Pavaroti-http://www.youtube.com/watch?v=lBhGLIDXAZQ
--P.Anka-http://www.youtube.com/watch?v=vj10KWPXew4&feature=related
COMME D'HABITUDE:
--Claude François:
http://www.youtube.com/watch?v=tadEl9y0Qdc

(Paul Anka foi sugestão da Inês Triguis)

20 de fev. de 2009

SOBRE VAGABUNDOS


Dudu foi quem me levou a resgatar a imagem dos vagabundos afirmando que o melhor funcionário do mundo é o “vagabundo responsável”, aquele tipo que, para trabalhar menos, é capaz de ser criativo o suficiente para simplificar as rotinas de trabalho. O final de seu esforço mental precisa trabalhar só metade do tempo (redução do esforço físico) para atingir as metas... Parei para pensar e lembrei-me da minha avó usando um pesadíssimo instrumento chamado escovão (foto da esquerda) para esfregar, no chão de madeira, uma palha de aço. Feito esse trabalho insano, vovó espalhava cera, de joelhos, pelo assoalho. Horas depois, o escovão voltava a ser passado com uma flanela, para dar brilho. Minha mãe já foi beneficiada pelo esforço (mental) de um vagabundo qualquer que, horrorizado com a idéia de encerar o chão à moda das vovós, inventou a enceradeira. Enceradeira é um instrumento elétrico em desuso, mas que demandava 70% menos de esforço que o escovão.
Porém, mesmo a enceradeira era cansativa. Tinha que ser passada por todo o assoalho para limpeza (varredura), depois para espalhar cera e uma terceira vez para o brilho. Foi ai que um vagabundo ainda maior inventou o “sinteco” (cascolac) que dá um brilho permanente (pelo menos por alguns anos) no assoalho de madeira. Quem não gosta do tal sinteco, cobre o piso com carpetes e outras novidades modernas. Escovão, cera, enceradeira, nunca mais. Quem inventou a TV com controle remoto? Não sei o nome, mas, certamente foi um desses vagabundos sem disposição para levantar do sofá a cada 3 minutos para mudar de canal, aumentar o som, reduzir o brilho, etc. Do mesmo tipo de pessoa que inventou o câmbio automático, o aquecimento central e (porque não?) a energia elétrica, a carruagem sem cavalos, o avião... Alguém disposto a ir, em lombo de burro, de Fortaleza a Recife não se preocuparia em ter um automóvel; alguém feliz com uma travessia oceânica de navio a vela, à moda Cabral, jamais gastaria tempo inventando o avião. Um vagabundo inventou o elevador para não subir 20 andares de escadas todos os dias. Outro inventou a alavanca, para fazer menor esforço... Acho que você captou a idéia.
Gente maravilhosa como Dorival Caymmi, levou o direito ao menor esforço ao extremo (algo como uma composição por ano) e 1 "caymmi" poderia ser uma unidade de medida de esforço. Alcindo Ferreira, meu amigo e mestre, trabalha a aproximadamente 0,7 caymmi...
É isso! Quem inventou a máquina de lavar roupa? O lava-pratos? Liquidificador? Microondas? Tudo obra de vagabundo. Ô raça abençoada, pelo menos por nós outros vagabundos que não sab
emos inventar nada.

Dudu é o Carlos Eduardo Tavares de Andrade, hoje um aposentado do Banco Central, vivendo no Rio

----

18 de fev. de 2009

CELULARIZANDO

Toca o celular:
- Você tá podendo falar? " Sim, pode falar"
-
Tem certeza que eu não incomodo? - "Não, não. Tranquilo, estou no escritório"
- Ih! No escritório? Mas tem certeza que não vou atrapalhar alguma reunião, algum contacto? Não fica ruim para você atender ai e tratar de um assunto particular?

-"NÃO, Não ATRAPALHA...POR FAVOR, FALE!"
-
Olha, tudo que eu não quero é incomodar...sei como é chato......blá, blá blá.

-"QUERIDO, PRESTENÇÃO: SE VOCE, AO INVÉS DE FICAR COM TANTO CUIDADO, TIVESSE DADO O RECADO, CERTAMENTE JÁ ESTARÍAMOS NOS DESPEDINDO. ALIÁS, AGORA TENHO QUE IR MESMO QUE ESTOU SENDO CHAMADO".
-
Ah! sim, claro! Me perdoe... eu detesto chamar no celular e (mais) blá, blá, blá...

O uso intensivo do telefone celular no Brasil tem pouco mais de 18 anos, o que nos torna, ainda, "aprendizes de uso" desse aparelhinho infernal. Com o tempo aprenderemos a evitar seu uso em determinadas situações e locais como casamentos, igrejas, velórios, teatros, cinema e assim por diante. Enquanto isso não acontece é importante aprender algumas regrinhas para as ocasiões em que uma pessoa nos atende, até para evitar situações chatas como essa que descrevemos. Há pessoas que nos chamam e nos deixam loucos, como no exemplo acima, mas tem o tipo contrário, aquele que se atendemos, por deferência, cuidado ou carinho - mesmo em condições desfavoráveis - dispara a falar sem sequer nos dar tempo de dizer algo do tipo "agora não dá, mas volto a ligar em seguida". Depois de 3 minutos,
quando interrompidas até com certa rispidez (infelizmente necessária, em certos casos), ai sim se dão conta que deveriam ter perguntado antes se podíamos conversar ou não.
Quem conhece a mim e à minha decantada incompetência para manter uma conversação ao telefone (que considero um equipamento necessário, mas para recados curtos) deve estar atribuindo à essa minha idiossincrasia os comentários acima. Mas tenho certeza que você conhece (E PROVAVELMENTE AMA) pelo menos um de cada dos dois tipos mencionados.
-

2000inove

Quando um banco brasileiro lançou essa publicidade para o ano de 2009 (2000inove), morri de inveja por não ter pensado nisso antes. Bela idéia, belo trocadilho, bela mensagem... Mas, pensando bem, o “inove” pode ser um bom conselho, mas não necessariamente uma boa referência... Vamos lembrar:
Dez anos atrás, 1990inove, o BC resolveu inovar: Chico Lopes tentou implantar um novo modelo cambial e (simplificando) a taxa de câmbio explodiu e, em poucos dias o dólar passou de R$ 1,15 para R$ 2,20 (depois voltou). Um início de ano aterrorizante.
Vinte anos atrás, 1980inove, o Brasil inovou, voltou a eleger diretamente o presidente da república e escolhemos Collor. Antes, tivemos o Plano Verão, a 3a. tentativa de Sarney para nos livrar da inflação. Em um fim de governo, o Ministro Maílson, sem a opção de adotar medidas estruturais, fez esse remendo, a atitude possível.
Trinta anos atrás, em 1970inove, o BC inovou: fez a 1a. maxidesvalorização (30%) da moeda nacional, prenúncio do desastre que se confirmou em 1982, com a moratória da dívida externa. O choque do petróleo de 1979 arrebentou com as economias pobres e os “paises em desenvolvimento”. Nunca mais paramos de fazer máxis...
Quarenta anos antes, em 1960inove foi o governo militar quem inovou: o presidente Costa e Silva tem um derrame, é afastado e o Brasil passa a ser governado por uma junta militar. Ainda em 1969 foi escolhido e empossado o novo presidente, Emilio Garrastazu Médici.
Bem, 2000inove começou embaixo de uma crise que grandes economistas já consideram maior que a de 1929, até então a maior crise fora de tempos de guerra.
Em suma, apesar de não ser supersticioso, já não sei se gostaria mesmo de ter tido a idéia do “inove”.
-

14 de fev. de 2009

PELO TELEFONE

O estranho aparelho da foto, sem teclas e sem disco, é um telefone como usávamos lá no interior de São Paulo até inicio dos anos 70. Parece uma coisa muuuuuuito antiga né? Mas lembre-se, principalmente quem é do time que acredita que o mundo foi criado por Bill Gates que, em 1970, o Bill já tinha 15 anos. E hoje tem 52.
Mas e o aparelho, como funcionava? Bastava tirá-lo do gancho, girar a manivela e aguardar um pouquinho a telefonista:
--Boa tarde! Oooooooi é você? Ainda ontem falamos de você no enterro do Seu Manoel da Marcenaria...Parabéns por ter passsado no vestibular e blá, blá, blá!
-- Ah! Que bom Dona Alzira. Pode "me ligar" por favor no 49?
-- Claro! Boa tarde, abração para sua mãe e para você. E plugava um cabo no número 49 à sua frente. Porém, não raro, essa solicitação teria outra reação da telefonista:
-- Ih! Não tem ninguém lá! Dr.Rubens foi pra São Paulo com toda familia. Foi ao médico para uma revisão daquela cirurgia do mês passado, nada mais. O resto da familia foi passear mesmo e só voltam domingo.
Tinha outra maneira de ligr também (sempre girando a manivela e falando com a telefonista):
--Dona Alzira, "me liga" na casa do Paulo Cruca, por favor! Depois de tentar a conexão e ninguém atender, ela diria:
--Ninguém atende, mas vamos tentar na casa do Serginho porque agora mesmo ligaram de lá para a casa do Zillo e eu acho que a voz era dele... E se não estiverem lá é que já foi todo mundo pro ginásio.

E assim a vida seguia. Sentiu inveja, né? Pois no incio dos anos 70 a manivela foi substituida por um botão (uma campainha) para chamar a telefonista. Mas essa fase foi curta, porque logo sobreveio o telefone com um disco, uma peça circular com algarismos de 0 a 9. Dispensava a telefonista e para que se fizesse a conexão com o número a ser chamado, era preciso colocar o dedo em cada dígito e fazê-lo girar até o "clic"... Impessoal.
Aliás, foi dessas discagens que os marketeiros criaram os DISK-PIZZA, DISK-REMÉDIO, etc. Hoje não se "disca" mais, apenas digitamos sobre teclas, mas ainda se usa a expressão DISK. E por falar em expressão, para usar um telefone público éramos obrigados a comprar uma ficha metálica, redonda como uma moeda, que era depositada em local apropriado no aparelho. Se a ligação se completasse, isto é, se alguém atendesse lá no número chamado, a ficha caia para dentro do aparelho. E até hoje, quando entendemos uma idéia, compreendemos uma explicação como se tivesse ocorrido uma conexão completa, a gente diz que "caiu a ficha".
Muita gente nascida nos ultimos 15 ou 20 aos jamais viu algo assim, abraçada que está com magnificos aparelhos eletrônicos que tocam MP3, acessam internet, funcionam como GPS, mandam e recebem e-mails, tiram e armazenam fotos, mais outras 144 funções, entre as quais falar com alguém distante, uma conversa remota como em um telefone.
Viva o progresso. Antes uma ligação de Ipauçu para São Paulo podia demorar 10 ou 12 horas para se completar. Hoje o fazemos em segundos, para São Paulo ou qualquier lugar do mundo. Mas dá saudade da sensação de pertencer à aldeia, centralizada numa telefonista como Dona Alzirinha que ainda está lá em Ipauçu, com suas memórias. Caiu a ficha: hoje há mais tecnologia, antes, mais poesia.
.

7 de fev. de 2009

CATARINICES, PARTE 3 - DEMARCAÇÃO DE TERRENO

Catarina, a Pit, é rápida no gatilho! O que tem de linda e doce tem de brava... Dou-lhe uma idéia: Tercio é um cara dificil de acordar. Odeia acordar! E acorda de mau humor, ao menos por alguns minutos (depois, volta ao normal). Ninguém gosta de acordá-lo e se transformar, por alguns minutos em alvo da sua ira. O que fazer? Chama a Pit que, nessas horas incorpora o capitão Nascimento e enquadra o Tercio... que acorda pianinho. Se Tercio anda se esquecendo de alguma coisa, meio desleixado com outra, chama Pit. Que enquadra o irmão!

Pois foi inusitado (apesar de esperado) o que vimos dia desses quando alguém de fora, desavisado, tentou criticar o Tercio na frente dela e recebeu uma enquadrada daquelas de perder o rumo de casa. Só balbuciou: "mas você também critica ele...". Nem chegou ao final da frase e ouviu uma voz decidida: 'O IRMÃO É MEU, CRITICO EU!" Todos, até a Sininho (a yorkshire), captaram a mensagem e botaram o rabo entre as pernas...

6 de fev. de 2009

Por um dia como antigamente (by Tercio)

Em 22 de Abril de 1918, perto do fim da Primeira Guerra Mundial, o corpo do alemão Manfred Von Richthofen foi sepultado por seus oponentes. Conhecido por seus memoráveis feitos militares, incluindo a recordista façanha de derrubar 80 aviões inimigos em combate, o Freiherr, o "Free Lord" ou o ainda o Barão Vermelho, como ficou conhecido por seu avião vermelho e sua origem nobre, é o representante maior de uma maneira especial e diferente de se combater nessa guerra.

Em contraste aos desumanos combates travados em solo, dentro de fétidas e úmidas trincheiras, as batalhas aéreas da Primeira Guerra tinham enorme semelhança com as famosas Justas de Cavalaria da Idade Media. Nessas Justas, realizadas em torneios, o cavaleiro com sua enorme lanças de madeira cavalgava em direção ao seu adversário em arenas de até 300 metros, buscando derruba-lo de seu cavalo e junto com isso a honra e a gloria que a vitória atrelaria ao seus nomes. Não se buscava a morte do oponente (embora não tão raro isso acontecesse). A prova final de sua habilidade e o merecido respeito eram amparados por todo um sistema e um código de honra que regulava suas ações, descritos em parte na honra e no respeito aos adversários.

Se recuarmos a Roma antiga, dentro do Coliseu cerca de 70 mil pessoas se reuniam para presenciar diversos jogos cuja principal atração era a famosa batalha entre gladiadores. Há um aspecto interessante que muitas vezes passa despercebido quando se fala dessas batalhas. Embora nesse caso a margem de mortos fosse consideravelmente maior que numa Justa Medieval, uma grande parte desses combatentes vencia na verdade, pelo cansaço. Eles lutavam tão avidamente, por tanto tempo e muitas vezes com armaduras tão pesadas, que a batalha terminava não quando alguém era levado a morte, mas quando exausto, dizia que não agüentava mais e pedia pra parar (De forma semelhante como viria a fazer um lutador de Jiu-Jitsu imobilizado no tatame, ou um novo recruta quando treinado pelo implacável Capitão Nascimento). No final, cabia ao público e ao imperador decidir pela vida ou morte do derrotado.

Essa decisão normalmente se baseava no quanto o publico compreendia que aquele oponente, mesmo que derrotado, tinha lutado ou não com bravura e habilidade. Se a resposta fosse positiva, um sinal positivo era feito com o dedo polegar e sua vida era poupada, no melhor estilo Big-brother. Vale aqui destacar que, apesar da diferença da gravidade da problemática em análise, existe um profundo abismo entre os critérios culturais e morais na análise e julgamento utilizados pelo público, em relação a nossa televisiva versão contemporânea.

As batalhas dos pilotos da primeira guerra tinham também seus códigos. Por exemplo, nunca se atirava num piloto que perdesse o combate e pulasse com um pára-quedas de seu avião. Uma vez este derrubado, a batalha estava ganha e não havia mais razão para se continuar a perseguição. Alguns diriam que os generais que ficavam no solo se
aborreciam profundamente com esses sistemas e essas batalhas, dizendo que os pilotos seriam muito mais úteis bombardeando os campos inimigos do que travando esses duelos pessoais.

O episodio do enterro de Manfred Von Richthofen é descrito como uma homenagem digna de um herói. Celebrada em solo inimigo, por combatentes dos exércitos inimigos. Centenas de pilotos compareceram e comenta-se ainda que vários deles chegaram a chorar na cerimônia. Certamente, esses pilotos "marchavam ao som de um outro tambor".

Penso que talvez exista mesmo alguma razão no pensamento que diz que "os mortos governam os vivos". Ou quem sabe, apenas existam alguns princípios que no fundo governem os dois...

No dia 01 de fevereiro de 2009 fui alegremente surpreendido por um singelo episodio no esporte mundial. Na sua devida proporção, especificidade e claro, imerso na implacável piscina da sua temporalidade. No mesmo instigante principio esse episodio na verdade, foi o que se inspirou toda essa reflexão.

Não diria que sou um grande fã desse esporte... Mas certamente, fiquei fã desses caras.
Fica aqui o episodio (endereço do you tube) nas palavras deles mesmos. Eu não poderia fazer melhor...



(Este texto acima é de autoria do Tercio (o filho historiador) que não tem - ainda - um blog. Aliás, quem tem também um blog é o Emilio Neto (o filho teólogo) que por coincidência, escreveu sobre o mesmo assunto, motivado pelo mesmo evento. o texto se chama Rivalidade, Agonia e Maestria. Clique aqui para parte 1. Vale a pena dar uma conferida. Honra ainda é importante...)