31 de jan. de 2009

DECIDIR É... FADA!

As cãs (os velhos cabelos brancos, mesmo pintados ou desaparecidos) nem sempre facilitam o processo de decisão de cada um de nós! Já nos demos conta que, para muitas pessoas, o passar do tempo só faz aumentar as dificuldades para decidir. Ora, os que ficaram jovens mais recentemente do que nós, se não têm a chamada "experiência de vida", também não costumam carregar nas costas um histórico grave de erros e assim, para eles, tomar decisões mesmo as grandes, lhes parece mais fácil. Contudo, nós outros, “jovens mais antigos”, ao contrário, já acumulamos tantos erros que vez por outra entramos em pânico até por decisões mais simples como a cor do novo automóvel, depois do "perrengue" que foi a decisão de trocar o carro velho.
Conto-vos um segredo: eu conheço uma Fada. De verdade! Filha do Fado, nasceu no instante imediato ao “dia das bruxas”, de forma que na sua argamassa placentária restava alguma poeira bruxesca, que acabou dando sabor e graça à sua condição de fada. Ou de faduxa! Pois, algum tempo atrás, ela comemorava mais um aniversário (não se pergunta a idade delas!) quando, além dos votos tradicionais, desejei-lhe “sorte nas escolhas e lucidez nas decisões”, por crer que “sabedoria acumulada na vida” e uma “pitada de sorte”, dariam a “garrafada” perfeita da poção da felicidade. E das decisões perfeitas...
Com seu sorriso mais doce, a fada respondeu-me : “...tento acertar (não fico em cima do muro), faço minha parte, tomo minhas decisões, mas não dá pra brincar de adivinho: faço as escolhas que me parecem certas no momento e vou vivendo minha vidinha, que viver é tão complicado que não dá pra ter certeza absoluta que escolhemos bem! A gente só espera que sim...” Ai viajou,
mesmo
sem vassoura, e complementou: ”Deviam inventar o sistema de rascunho: primeiro você rascunharia sua vida e depois, se gostasse – só se gostasse – passaria a limpo... E pelo desejo de “lucidez nas decisões”, confesso que venho tentando conjuga-la com minhas emoções, de forma a tentar fazer o melhor da minha “mão” nesse jogo da vida...”
Simples assim! Todo mundo já tomou decisões que, algum tempo depois, concluiu que seria melhor se tivesse tomado outro caminho, decidido de outra forma. Mas o sorriso da Fada reafirmou, ao meu coração, algo que a mente talvez já soubesse: a decisão tem que ser a "coisa" certa naquela hora que é tomada. E a “sorte” na escolha depende muito da dose adequada de emoção, em um processo de aprendizado que nunca termina.
Uma decisão tomada em certo momento é certa “naquele momento”.

17 de jan. de 2009

O MILAGRE DO POUSO

Dia 15.janeiro.2009 será sempre um dia inesquecível para Chesley B Sullemberger III – o Sully – e para, pelo menos, mais 154 passageiros do Airbus A320, um avião que ele pousou com perícia e graça no leito do Rio Hudson em Nova Iorque.(veja o gráfico abaixo a direita. Para ampliar clique sobre ele.) Nenhuma vitima! Todos deixaram o avião e foram recolhidos por barcos que trafegam diariamente ali, pertinho do coração novaiorquino. E, com justiça, Sully é o herói do momento. De um momento carente de heróis. Tem 57 anos e mais de 19.000 horas de voo, Especialista em segurança de vôo, é piloto há mais de 40 anos e iniciou a sua carreira na Força Aérea norte-americana.
Ao mesmo tempo, o mundo vive uma das maiores crises econômicas da História e ela teve seu “anuncio formal” em 15 de setembro passado (quebra do Banco Lehman), exatos 4 meses antes do que agora é chamado “milagre do Rio Hudson”. Em comum? Quase nada, além de terem ocorrido, ambos os eventos, em Nova Iorque, com a fina ironia que um dos fatos – a crise – nasceu da imperícia de pilotos de bancos e "agencias reguladoras" e o outro – o milagre – só foi possível porque a pilotagem foi primorosa.
Muito já foi dito sobre instituições financeiras e “agencias reguladoras” estarem sendo pilotadas por gente muito bem preparada nas escolas e ultra-especializada no uso de tecnologia de ultima geração, porém inexperiente. Como Sully demonstrou, se um avião é atingido por uma revoada de pássaros, de surpresa, afetando mortalmente seu funcionamento, não dá tempo de consultar nem um manual, nem o Google. Sully só teve alguns segundos não só para tomar as decisões certas, como conduzir pessoalmente os procedimentos necessários. Muito diferente dos “pilotos financeiros”, enaltecidos e “bonificados” (em dinheiro) enquanto persistia um cenário calmo, um verdadeiro “céu de brigadeiro” na economia mundial, porém, na primeira crise séria caíram de bico no chão (ou no colo de governos em todo o mundo).

Ainda ontem, dia 16, assistimos pasmos ao anuncio de mais socorro financeiro, em valores astronômicos, ao Citibank e ao Bank of América, para salvá-los de afundar nos rios gelados no universo. Isso, depois de socorrer Merril Lynch, Bear Sterns, Wachovia, Fanny Mãe, Freddy Mac e e muitos outros “menos votados”. A maioria dos pilotos dessas instituições havia recebido louvores (e bônus financeiros, claro) pela decolagem, pela lotação, pela "qualidade" do vôo enquanto o mundo estava sem crises mas, quando suas “naves” tiveram que enfrentar um contratempo e afundaram, a maioria já tinha saltado fora.
Sully é diferente: sua “louvação” veio depois, porque soube pousar a nave, nas condições mais adversas. Seu maior bônus é ser chamado, para sempre, de herói. Competente e experiente.

14 de jan. de 2009

Sobre Penicos

Dia desses fiquei de falar do penico um utensílio que já foi de intenso uso doméstico, mas que hoje é de uso cada vez mais restrito. E muita gente nunca o conheceu, pelo menos no auge de seu "estrelato". Segundo o dicionário, penico ou urinol é um “vaso apropriado para nele se urinar e defecar”. Também pode ser chamado “bacio” ou “bispote”, termos que, confesso, não conhecia! Feita a apresentação formal, vamos ao que interessa: a coisa real!
Tempos atrás, não muito (se você ainda não era vivo, sua mamãe já era - respeitosamente), havia grande dificuldade para construção de banheiros dentro das casas, por causa, principalmente, da falta de rede pública de esgotos. Por isso, havia necessidade de dirigir os dejetos a uma fossa séptica e assim, ao invés de banheiros internos – como é usual hoje – eram construídos numa “casinha” à parte, 20 ou 30 metros longe da “casa principal”. E diretamente sobre a tal fossa séptica.
Algumas poucas casas, de pessoas mais abastadas, dispunham de banheiro interno, mas raramente havia mais do que um banheiro em uma casa, mesmo que ali morassem, por exemplo, 20 pessoas, em seis ou mais quartos. Já havia chuveiros rudimentares, mas os banhos, normalmente em bacias e com ajuda de canequinhas, ficavam em ambientes separados, o que não impediu que ambos, o ambiente de banho e o ambiente sanitário, acabassem na história simplesmente como “banheiros”. Os edifícios de apartamentos talvez tenham sido os responsáveis pelo crescimento de uso de banheiros internos, até porque nos prédios altos nem há outra solução.

Mas, o que queremos contar é que, por conta dessas “dificuldades sanitárias”, diariamente as pessoas levavam para seu quarto e depositavam discretamente debaixo da cama, um penico
como esses ai da ilustração, principalmente para colher aquele xixizinho básico da madrugada. Evidentemente, as noites frias ou chuvosas desencorajavam uma caminhada até a tal casinha, além de haver sempre quem tivesse medo de sair de casa na madrugada. Por conta disso, nessas ocasiões, o penico recebia coisas mais sólidas, de forma que, ao amanhecer, os primeiros a acordar eram premiados com o cheirinho característico da penicaiada espalhada no chão e escondida pela beirada do lençol. Na cena seguida, após o cantar do galo ou o soar do despertador, surgia a fila de sonolentas pessoas, cada qual portando seu próprio penico como quem portava uma oferenda a um deus pagão, para limpeza desses utensílios no “banheiro” externo. Logo após essa “cerimônia”, o cheiro do café e o ar puro da manhã davam fim a essa sinfonia de cheiros colhidos na madrugada. E os penicos limpos eram recolhidos a espera da próxima noite.

[Os penicos ainda hoje são usados e atendem principalmente às pessoas doentes, nos hospitais e em casa, e nas muitas áreas que a saúde pública não alcança com suas redes de água e esgotos].