30 de set. de 2008

PRIMEIRAS RUGAS DE OUTONO


Achei que iria voltar ao hemisfério sul sem perceber o Outono, exceto no calendário e nas liquidações dos magazines. Mas após três dias já sentia sua tímida chegada, assim como as primeiras rugas buscam espaço nos detalhes de rostos bonitos de jovens senhoras. As mulheres, normalmente, entram em pânico com esses primeiros sinais... Se soubessem como ficam mais belas, mais suaves. Quando a sabedoria envolve o encanto, a beleza é homenageada.

Mas voltando à terra, do norte e olhando com atenção, se percebia que a temperatura já caia pela noite e trazia nas mãos as primeiras mudanças, os primeiros amarelos e marrons salpicando o monótono verde... Como os pequenos sinais que embelezam ainda mais um rosto bonito.

Que bom que estações se sucedem... De verdade, nenhuma é melhor que a outra. Todas têm problemas e delícias. Sai do Outono do Norte e vim sentir os primeiros perfumes da Primavera aqui no meu Brasil... Por via das dúvidas, comprei um Azzaro no Free Shop! Sorry...

26 de set. de 2008

Nós na América (parte III): O OUTONO

Encontramos o Outono no tempo do calendário, mas ainda não no tempo que estamos vivendo aqui. O Verão resiste, parece hesitar em ceder seu lugar, como muitos conhecidos nossos fazem ao longo do tempo, agarrados ao que não mais podem ter ou ser. Principalmente os que se agarram ao poder!
Aqui, as árvores parecem iguais, ainda verdes... só com muita atenção se descobre as primeiras folhas mudando de cor; já ocorrem quedas em maior quantidade, auxiliadas por um vento que cresce nos ouvidos e nos cabelos dos que têm. Mas o Outono, oficialmente no ar, ainda não mostrou sua face real. Nem expulsou o calor, nem trouxe, como numa compensação, a beleza da plumagem colorida para enfeitar a natureza. Fosse no Brasil e diríamos que a nova estação ainda não “pegou”. Como ocorre com algumas leis!
Mas tudo é uma questão de dias. Mais ao norte, a estação já é mais perceptível. Na verdade estamos na metade sul do hemisfério norte.
Na nossa vida também é assim: muda-se de estação inexoravelmente, mesmo que tentemos nos agarrar ao passado. Ou segurá-lo em um presente efêmero
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25 de set. de 2008

O Código da VIDA

Terminei de ler o Código da Vida, de Saulo Ramos, ex-Ministro da Justiça no Governo Sarney, entre muitos outros cargos exercidos, advogado famoso (e reconhecidamente caro), ora em fase de aposentadoria. É inegável que o Dr.Saulo tenha um estilo agradável, mordaz e instigante. No livro, se propõe (ou finge fazê-lo) a contar a história de uma demanda judicial em que atuou como advogado, envolvendo um casal em litígio pela guarda dos filhos. Mas essa história serve para gerar inúmeros pontos de partida para trazer ao leitor a sua visão de fatos da história do Brasil, desde o governo Jânio Quadros em que teve uma participação menor, até o governo Sarney onde ponteou como Ministro da Justiça, com participação ativa na Constituinte de 1988.
Trata seus amigos como clientes, isto é, defende-os de forma incansável, como é o caso de Sarney, numa parcialidade humana e compreensível. Aos desafetos, os rigores da lei, sem atenuantes! Partidários do governo atual (segundo o IBOPE mais de 2/3 da população), não deverão achar muita graça no compêndio! Bordoadas são distribuídas com vontade...
Valoriza sua participação na Constituinte, reclamando alguns méritos que historiadores e jornalistas mais apressados não lhe atribuem, ao menos com a ênfase que gostaria. Sarcástico e às vezes cruel, o autor vai de Brodowsky onde nasceu aos dias atuais, numa saborosa desordem cronológica que cria pequenos quebra-cabeças para o leitor, tornando a identificação da época da qual fala, a cada capítulo, um teste de identificação.
Uma leitura interessante. Claro que, como bom advogado – e talvez a demonstrar essa qualidade – faz mergulhos rápidos pela economia e não faria parte do G4 (o grupo dos 4 melhores, que se classificam para etapas posteriores em um campeonato de futebol), caso disputasse um campeonato de Economia. Mas isso é uma parte menor do livro e não tira seu mérito, em hipótese alguma. Merece ser lido.

Nóis na America, parte 2 - o COMISHATO

Passamos a alfândega americana na sexta feira (19.09.08) pela manhã. A viagem pela Delta foi tranqüila apesar de ser mais uma empresa aérea com o viés de reduzir o espaço entre os bancos, como se população do mundo estivesse encolhendo e não o contrário. Ainda assim, a viagem seria mais tranqüila se um dos comissários, um sorridente e gorducho japonês, não insistisse em passar instruções em idioma japonês, a cada 5 minutos, Deus sabe pra quem! Afinal, era um vôo São Paulo–Atlanta. Instruções em inglês e numa língua que eles pensam ser português, é admissível. Mas, interromper 14 vezes a primeira hora de vôo (e o filme, Indiana Jones III) para intermináveis blá-blá-blás em idioma nipônico, despertou o espírito ninja tornando difícil conter o desejo de, ao grito de BANZAI, esganar o chato do Comishato, digo, Comissário. Bem, nada impediu o Tercio de dormir 8 e meia das nove horas de vôo (excelente companhia!!!). Passei algumas horas lendo o Código da Vida, do Saulo Ramos (depois eu conto)...Vida que segue. Na sexta ao meio dia, depois de passar por Atlanta, chegamos a Miami, que fica ao norte do Caribe... mas isso é outra história.

17 de set. de 2008

É nóis na America...

Lá vamos nós (amanhã, 5a.feira 18), Tercio mais eu, no rumo norte, de encontro a algum resto de furacão (Ike medo!), prontos para assistir o Outono nascer. E principalmente, para abraçar Anelise e Emilio... (suspense) ... e a Sapeca, claro! Partimos 5a.feira, 18.09.
Pra quem não sabe: Tercio, o companheiro de viagens, é o filho que mora no quadradinho do DF; Emilio (meu homônimo) é outro filho, o mais velho, habitante temporário do Mississippi (com 4 esses; 4 is; 2 pês) marido da Anelise. E a Sapeca (Sassá pros mais íntimos), é uma cachorrinha linda de morrer que cuida do casal mississipento.
Recentemente o casal foi ameaçado (sem que a ameaça se cumprisse) por alguns furacões, mas os dois estão temendo, mesmo, é o Tercio e sua fome animal, sua cantoria desenfreada e loucura permanente. Mas é gente boa!
A gente começa por Miami, vulgarmente conhecida como capital da América Latina, depois voa para Jackson, Mi. (Catarina, peninha que vc num vai desta vez. Ano que vem, coast to coast...).


De vez em quando a gente volta aqui pra contar a história...

15 de set. de 2008

Aniversário de Emilio, o avô!

Hoje é aniversário de Emilio Garofalo, o que mora em Bernardino de Campos e é meu pai. Essa explicação é necessária porque somos 3 os Emilio Garofalo que descendem de Caetano e Páschoa: meu pai, o aniversariante de hoje, eu mesmo e o Emilio Neto, lá no Mississipi.
Bom, o aniversariante chega ao 79, em pique de academia 5 vezes por semana. Invejável.
Saúde e paz, pai (ou Vô Linus como o chamam os netos).

11 de set. de 2008

Um lugar chamado Ipauçu, o Panema e eu...

Meus pais se mudaram para Ipauçu quando eu tinha pouco mais de um ano de vida e lá fiquei até os 18 anos quando o fado levou-me pra Capital (os pais e a mana foram juntos, claro).
Assim vivi lá em Ipauçu toda essa etapa de formação de músculos e caráter, razão por que, quando precisei ir-me embora, cometi uma pequena canção, nesse estilo brega-sertanejo que depois virou praga.
Veja: tinha apenas 18 anos e tocava mal um violão, assim, a inspiração tinha limites de todos os tipos. Mas chegava até o Panema, jeito local de apelidar o Paranapanema, o rio que passa na cidade (divisa sul do estado de SP). Um belo rio...
Ai está a letra. Singela, pessoal e jovem (a canção quandocomposta, claro).


O meu Panema (1.971)
- I -
Quando a gente vai se embora
De tristeza a serra chora
Que não quer se separar
E se gente volta um dia
Pra fazer-lhe companhia
Ela põe-se a cantar

E na voz do meu Panema,
Ouço a vida tão serena
Que não quero mais deixar

O meu rio, o meu vale,
Minha vida, meu poema...
No mundo não há quem cale
O rolar do meu Panema!
(repete: No mundo não há quem cale
O rolar do me Panema).

- II -
Talvez um dia
Eu aceite a fantasia
Faça da vida poesia
E então volte pra ficar

Contar as mágoas
Pros gênios e pras fadas
Que vivem nas suas águas
Meu Panema meu lugar

O meu rio, o meu vale, etc...
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(Hoje essa canção me emociona um pouco mais porque o Raposa gostava dela e a cantava sempre. Agora o Raposa só canta no céu, junto com o Caju e com a Dona Miloca... Guenta ai turma!)

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ESPERANÇA

ESPERANÇA
(em um olhar sobre o lago de Ipauçu-SP)

Este é um recanto manso, imenso.
Água antiga de funda saudade,
Tempo vivido, campo e cidade!
Um mergulho infante e tenso
Uma vida descoberta, liberdade!

Saudade das emoções primeiras,
Baile, namoro, beijo assanhado,
Um vazio presente, um vivo passado,
O arquivo das letras ordeiras,
Pela dor do tempo gravado...

Passados colegas, mestres-guias,
Escolas intrigantes, integrantes,
Todos os povos, os imigrantes...
Saudade de viver em duas vias:
Quem se entrega, recebe antes!

Por fim, amigos n’outra dimensão
Por ora ensaiam a mais linda seresta...
Logo vamos cantar juntos, orquestra,
Sem contar tempo, sem galardão.
Há esperança mais linda que esta?


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FOTO DE IPAUÇU – SP - 2008 (onde vivi dos 2 aos 18 anos)

8 de set. de 2008

SONETO DAS DATAS

(de maio/2008)

Há datas que não gosto,
Gostos que eu não dato
Gestos que não acato
Postos onde me não posto.

Há vezes que não tenho vez
E viezes que me soam vãos..
Sons que me repetem nãos,
Vozes que me dão surdez.

Ruídos para o ouvido mouco,
Tanto grito e só o silêncio apraz...
Tantas datas que dizem pouco!

Em suma, eu já não sou capaz
De esconder que vivo louco
Pelo romance ao som da paz.

NO OUTONO DA VIDA

(2008)

Prefiro ver e sentir o Outono ao norte do equador. Lá como cá, as folhas caem no Outono, pois conhecem o tempo e as estações e “sabem” que sua hora chegou e que devem deixar a vida para que outras folhas ocupem seu lugar. Mas, não se entristecem por isso; ao contrário, engalanam-se, explodem numa profusão de cores que só nesse tempo se vê. Cores inimagináveis ao sul do Equador.

Quando o Outono chega no norte é Primavera aqui (E a Primavera ao sul é mais bonita que a Primavera do norte). Mas, sul ou norte, as folhas caem no Outono. O vento e a chuva, elementos do tempo e do tempo ajudam nessa queda. Mas no norte, quando o espectro de cores se completa, o vento em reverência, antes de derrubá-las de vez, faz com que bailem coloridas no ar, se misturem no céu, como um festival de bandeiras em feriado nacional (licença, Orestes Barbosa, Silvio Caldas).

E a chuva as faz brilhar, mesmo no chão, antes que se conclua sua “saída de cena” e se inicie o processo de transformação em alimento para a flora.

Quando chega o Outono de nossa vida, acompanha-o a angustiante questão sobre como “sair de cena”, uma verdadeira “não opção” já decidida ao nascer. Como fazê-lo?
Com discrição, como as folhas fazem ao sul, à espera de ressurreição na primavera? Ou revestir a alma do turbilhão de alegria que as folhas do norte escolhem sempre, mesmo sabendo que não voltarão e que novas folhas surgirão nos galhos de onde saíram?
Fico pensando que essas folhas que se colorem com o anúncio de seu fim, que festejam o seu próprio fim, acreditam em vida eterna.