8 de set. de 2008

NO OUTONO DA VIDA

(2008)

Prefiro ver e sentir o Outono ao norte do equador. Lá como cá, as folhas caem no Outono, pois conhecem o tempo e as estações e “sabem” que sua hora chegou e que devem deixar a vida para que outras folhas ocupem seu lugar. Mas, não se entristecem por isso; ao contrário, engalanam-se, explodem numa profusão de cores que só nesse tempo se vê. Cores inimagináveis ao sul do Equador.

Quando o Outono chega no norte é Primavera aqui (E a Primavera ao sul é mais bonita que a Primavera do norte). Mas, sul ou norte, as folhas caem no Outono. O vento e a chuva, elementos do tempo e do tempo ajudam nessa queda. Mas no norte, quando o espectro de cores se completa, o vento em reverência, antes de derrubá-las de vez, faz com que bailem coloridas no ar, se misturem no céu, como um festival de bandeiras em feriado nacional (licença, Orestes Barbosa, Silvio Caldas).

E a chuva as faz brilhar, mesmo no chão, antes que se conclua sua “saída de cena” e se inicie o processo de transformação em alimento para a flora.

Quando chega o Outono de nossa vida, acompanha-o a angustiante questão sobre como “sair de cena”, uma verdadeira “não opção” já decidida ao nascer. Como fazê-lo?
Com discrição, como as folhas fazem ao sul, à espera de ressurreição na primavera? Ou revestir a alma do turbilhão de alegria que as folhas do norte escolhem sempre, mesmo sabendo que não voltarão e que novas folhas surgirão nos galhos de onde saíram?
Fico pensando que essas folhas que se colorem com o anúncio de seu fim, que festejam o seu próprio fim, acreditam em vida eterna.

2 comentários:

Emilio - Entre dois mundos disse...

Excelente texto. Massa demais a iniciativa. Divirta-se escrevendo que a gente se diverte lendo!!
beijo

Unknown disse...

Muito bom!!! Adorei!! Profundo!!
Bjo