25 de set. de 2008

O Código da VIDA

Terminei de ler o Código da Vida, de Saulo Ramos, ex-Ministro da Justiça no Governo Sarney, entre muitos outros cargos exercidos, advogado famoso (e reconhecidamente caro), ora em fase de aposentadoria. É inegável que o Dr.Saulo tenha um estilo agradável, mordaz e instigante. No livro, se propõe (ou finge fazê-lo) a contar a história de uma demanda judicial em que atuou como advogado, envolvendo um casal em litígio pela guarda dos filhos. Mas essa história serve para gerar inúmeros pontos de partida para trazer ao leitor a sua visão de fatos da história do Brasil, desde o governo Jânio Quadros em que teve uma participação menor, até o governo Sarney onde ponteou como Ministro da Justiça, com participação ativa na Constituinte de 1988.
Trata seus amigos como clientes, isto é, defende-os de forma incansável, como é o caso de Sarney, numa parcialidade humana e compreensível. Aos desafetos, os rigores da lei, sem atenuantes! Partidários do governo atual (segundo o IBOPE mais de 2/3 da população), não deverão achar muita graça no compêndio! Bordoadas são distribuídas com vontade...
Valoriza sua participação na Constituinte, reclamando alguns méritos que historiadores e jornalistas mais apressados não lhe atribuem, ao menos com a ênfase que gostaria. Sarcástico e às vezes cruel, o autor vai de Brodowsky onde nasceu aos dias atuais, numa saborosa desordem cronológica que cria pequenos quebra-cabeças para o leitor, tornando a identificação da época da qual fala, a cada capítulo, um teste de identificação.
Uma leitura interessante. Claro que, como bom advogado – e talvez a demonstrar essa qualidade – faz mergulhos rápidos pela economia e não faria parte do G4 (o grupo dos 4 melhores, que se classificam para etapas posteriores em um campeonato de futebol), caso disputasse um campeonato de Economia. Mas isso é uma parte menor do livro e não tira seu mérito, em hipótese alguma. Merece ser lido.

3 comentários:

Tão e somente... Yvoni disse...

Li num comentário que o título do livro é “grandiloquente”. E o deve ser mesmo...
O eminente autor e ‘autoridade’ usa sua eloqüência retratando acontecimentos “de um drama litigioso” e que, permeia os seguimentos ‘do Código’ com situações nem tanto ortodoxos levando os leitores a utilizarem o encéfalo para compreensão de passagens no mínimo curiosas.
Desconfio que no decorrer e ‘no discorrer’ dos fatos registrados o advogado demonstra saudosismo por sua epopéia nos tempos do Cruzeiro Estabilizado – “Cruzado”.
Noto, no intento de personificar ocorrências na primeira pessoa, pode não ter atingido totalmente o objetivo proposto, visto que ocorrem situações que, aos olhos de alguns citados não condizem na totalidade com o descrito nem tão pouco com o âmbito temporal. A rota não foi a ‘66’... Segue um trajeto um tanto desconfortável já que o conteúdo transcorre com artifícios confundindo os que O lê. Fazendo-se personagem, o Doutor passa por ‘Quadros’ indo até ‘Sarney’ contando sua própria história e dando a entender que não somente “o trabalho enobrece o homem, mas também o trabalho de dar trabalho...”. Tentasse explanar sobre Commodities, "agros-negócios" ou mesmo desenvolvimentos sustentáveis não poderia fazê-lo descendo a rampa 'da Esplanada', dada a evidente chance de nem precisar de ‘rodinhas’... Pois é... Um amigo meu diria assim: “Decifra-me ou devoro-te...” $$$...

Forte abraço

Tão e somente... Yvoni disse...

Em tempo: "O bom advogado conhece a Lei... O melhor, conhece o Juiz!"

EMILIO GAROFALO FILHO disse...

Isso Yvoni, parece correta essa visão, mas na verdade ela só é dada a quem ler o livro inteiro, sabendo da parcialidade e da peculiar estrada escolhida pelo autor. Ele faz um contraponto a diversas versões conhecidas e ai está, fundamentalmente, o valor de seu controverso texto. E nele estão contidos muitos temas a debater, distribuidos em mais de 400 paginas.
Há óbvias "fraudes" como a descrição minudente, inclusive inflexões, de diálogos entre terceiros, ocorridos 1/4 de século atrás... Mas com uma boa dose de ficção (ou não?) se faz a História.