O trauma decorrente do voo da AirFrance que chegou a destino não previsto (no plano humano), não desejado e, acima de tudo, trágico, é similar, na dramaticidade, às operetas trágicas das grandes conquistas, por exemplo, as buscas de novas terras. Fernando Pessoa contou isso em versos de grandeza tão elevada quanto a mágoa implícita em cada letra. Versos que equilibram beleza e dor, encanto e sofrimento:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Apesar disso, a consciência que grandes conquistas produzem, mesmo que de forma aleatória, grandes tragédias, induz o poeta a gravar em versos sua certeza que essas tragédias não podem e não devem trazer o medo de voar, o medo de sonhar, o medo de ousar. Por mais inconsoláveis que estejamos nós, pais, filhos, amigos, noivos e por mais respeitável que seja a dor de cada um.
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Pois, desta vez, os céus espelharam as tragédias dos mares.
Um comentário:
Excelente post. Pessoa nos ajuda a navegar os mares do que é difícil de compreender.
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