27 de jun. de 2009

POR DENTRO DO BUNKER

Lí com mais de mil dias de atraso o livro/depoimento de Guilherme Fiuza (3.000 dias no bunker, Editora Record, 2006 ), que conta detalhes observados "de dentro" do governo - ao final do século XX - sobre como foi o processo que deflagrou o Plano Real que, além de viabilizar uma moeda brasileira, "criou"um candidado vencedor, o FHC, pela sua identificação com a estabilidade recém conquistada pelo Brasil, após décadas de inflação corrosiva e cansativa.

Gostoso de ler, parcial - o que o valoriza, por não fingir o que não é - conta as peripécias de FHC, Persio Arida, Gustavo Franco, Malan, Pedro Parente, Clóvis Carvalho, Zilberstein, Armínio, o pessoal do Banco Central, entre outros, além dos "adversários" dentro e fora do governo.

Julinho Toledo Piza (apresentado no post anterior: "Bar da Dona Onça") gosta de contar a história de uma ida ao Bar Leo em Sampa, onde a disputa por um lugar para sentar é histórica. Julinho, habitué de muitas décadas, chegou lá certa noite e imediatamente foi "assentado" por um dos velhos garçons, para protesto de alguns "novatos"naquele pedaço da história da noite paulistana. Sem pestanejar, o garçon encarou os insatisfeitos e afirmou: "AQUI, NESSE BAR, TEM OS PROTEGIDOS". Pois não é que, esclarecido o "padrão de democracia" do local, tudo voltou à normalidade?

Esse me parece um atributo do autor de 3000 dias no bunker. Toma partido de algumas pessoas - principalmente Franco e Zilberstein - sem que isso perturbe o entendimento de seu texto, eis que o viés é claro. Conta os dissabores e as vitórias (parciais) de alguns personagens, sem exaltação pessoal, mas sem subterfúgios para maculá-los. Ninguém deveria "entrar no governo", em qualquer posto - especialmente no Executivo - sem ler um relato como esse, capaz de mostrar um pouco do custo pessoal de fazê-lo e reforçando o alerta que Tom Jobim tão sabiamente já emitira: "Brasileiro não perdoa o sucesso".
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Um comentário:

Emilio - Entre dois mundos disse...

Ótima história...o mito da imparcialidade... sabendo o viés fica tudo bem, lemos mais tranquilos e procuramos o contraponto!