14 de fev. de 2009

PELO TELEFONE

O estranho aparelho da foto, sem teclas e sem disco, é um telefone como usávamos lá no interior de São Paulo até inicio dos anos 70. Parece uma coisa muuuuuuito antiga né? Mas lembre-se, principalmente quem é do time que acredita que o mundo foi criado por Bill Gates que, em 1970, o Bill já tinha 15 anos. E hoje tem 52.
Mas e o aparelho, como funcionava? Bastava tirá-lo do gancho, girar a manivela e aguardar um pouquinho a telefonista:
--Boa tarde! Oooooooi é você? Ainda ontem falamos de você no enterro do Seu Manoel da Marcenaria...Parabéns por ter passsado no vestibular e blá, blá, blá!
-- Ah! Que bom Dona Alzira. Pode "me ligar" por favor no 49?
-- Claro! Boa tarde, abração para sua mãe e para você. E plugava um cabo no número 49 à sua frente. Porém, não raro, essa solicitação teria outra reação da telefonista:
-- Ih! Não tem ninguém lá! Dr.Rubens foi pra São Paulo com toda familia. Foi ao médico para uma revisão daquela cirurgia do mês passado, nada mais. O resto da familia foi passear mesmo e só voltam domingo.
Tinha outra maneira de ligr também (sempre girando a manivela e falando com a telefonista):
--Dona Alzira, "me liga" na casa do Paulo Cruca, por favor! Depois de tentar a conexão e ninguém atender, ela diria:
--Ninguém atende, mas vamos tentar na casa do Serginho porque agora mesmo ligaram de lá para a casa do Zillo e eu acho que a voz era dele... E se não estiverem lá é que já foi todo mundo pro ginásio.

E assim a vida seguia. Sentiu inveja, né? Pois no incio dos anos 70 a manivela foi substituida por um botão (uma campainha) para chamar a telefonista. Mas essa fase foi curta, porque logo sobreveio o telefone com um disco, uma peça circular com algarismos de 0 a 9. Dispensava a telefonista e para que se fizesse a conexão com o número a ser chamado, era preciso colocar o dedo em cada dígito e fazê-lo girar até o "clic"... Impessoal.
Aliás, foi dessas discagens que os marketeiros criaram os DISK-PIZZA, DISK-REMÉDIO, etc. Hoje não se "disca" mais, apenas digitamos sobre teclas, mas ainda se usa a expressão DISK. E por falar em expressão, para usar um telefone público éramos obrigados a comprar uma ficha metálica, redonda como uma moeda, que era depositada em local apropriado no aparelho. Se a ligação se completasse, isto é, se alguém atendesse lá no número chamado, a ficha caia para dentro do aparelho. E até hoje, quando entendemos uma idéia, compreendemos uma explicação como se tivesse ocorrido uma conexão completa, a gente diz que "caiu a ficha".
Muita gente nascida nos ultimos 15 ou 20 aos jamais viu algo assim, abraçada que está com magnificos aparelhos eletrônicos que tocam MP3, acessam internet, funcionam como GPS, mandam e recebem e-mails, tiram e armazenam fotos, mais outras 144 funções, entre as quais falar com alguém distante, uma conversa remota como em um telefone.
Viva o progresso. Antes uma ligação de Ipauçu para São Paulo podia demorar 10 ou 12 horas para se completar. Hoje o fazemos em segundos, para São Paulo ou qualquier lugar do mundo. Mas dá saudade da sensação de pertencer à aldeia, centralizada numa telefonista como Dona Alzirinha que ainda está lá em Ipauçu, com suas memórias. Caiu a ficha: hoje há mais tecnologia, antes, mais poesia.
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3 comentários:

EMILIO GAROFALO FILHO disse...

FALTOU DIZER
O título do Post reverencia uma canção de mesmo nome. Pelo Telefone é considerado o primeiro samba a ser gravado na Brasil(segundo os registros da Biblioteca Nacional), com uma controversa autoria atribuida a Ernesto Joaquim Maria dos Santos (Donga) e Mauro de Almeida. Foi registrado em 27 de novembro de 1916 como sendo de autoria de Donga.

Trapa disse...

Adorei a matéria, bem completa e cheia de detalhes.
Bjos.

Anônimo disse...

Emilio

Tantas estórias dentro da história, que me descobri fazendo parte da mesma.

Já faz tanto tempo e ao mesmo tempo, parece que foi ontem...

Valeu mais esta viagem sem o túnel. Foi uma espiral.

Beijo