
Ainda sou capaz de me emocionar ouvindo MY WAY na voz de Elvis, ou de aplaudir, se a voz for de Frank Sinatra. É uma versão em inglês, de Paul Anka, e como se sabe, nasceu de uma canção francesa "COMME D' HABITUDE de autoria de Claude François e Jacques Revaux, de 1967. Paul não fez uma simples tradução da letra original, mas aproveitou a melodia para desenvolver a teoria segundo a qual cada um de nós pode comandar seu próprio destino e conduzir a vida à sua maneira, seu jeito (way).
Cantada na primeira pessoa, MY WAYcontém as reflexões de alguém, já no fim da vida("And Now the end is near") que afirma não ter arrependimentos das coisas que fez em toda sua existência (" regrets I had a few but - then again - to few to mention").
Confesso ter dificuldades em concordar com isso, porque – sim – me arrependo de muitas coisas que fiz e de muitas que deixei de fazer, mesmo que seja auto-benevolente o suficiente a ponto de atribuir, ora à pouca idade, ora ao pouco amadurecimento, as "bolas foras" ao longo do meu "jogo". E o que é pior, a maioria dos arrependimentos aplicam-se a coisas que fiz "do meu jeito" (my way), ainda que fosse meu jeito bobo de aceitar pressão. Sempre que a “Força Superior” contrariou o meu jeito, não permitiu que acontecesse como eu queria, primeiro me enchi de raiva, mas um tempo depois (ou, muito tempo depois) tive que reconhecer que fora melhor daquele (outro) jeito.
Reconheço, agora pelo menos suas coisas: (1o.) existe um descompasso temporal entre minha ansiedade e o "timing" dos Céus, e (2o.) isso é experiência pessoal, que continua sendo desenvolvida e, fica claro que Deus não lhe nega o livre-arbítrio, mas também deixa que você sinta calor pelo fogo que você acendeu; escuro pela luz que você apagou; frio pelas janelas que você escancarou no inverno do tempo.
Na canção original, os franceses professam quase que exatamente o contrário de Paul Anka, o hábito de fingir, simular, aguentar algumas atitudes ou comportamentos, todos os dias, para deixar a “vida os levar” (Comme d'habitude/ Je vaiz sourire/ Comme d' habitude/ Je vais même rire/ Comme d' habitude/ Enfin je vais vivre/ comme d' habitude..."). Parece medíocre demais, muito fingimento e pouca vida real, como se não gerenciássemos nenhum pedacinho do nosso tempo.
Depois de meio século de vida acho que aprendi, pelo menos, que parte do viver é nossa responsabilidade e que o desajuste entre o meu relógio e o de Deus, não é por que o Dele esteja errado (por mais que eu reclame). Na maior parte das vezes a Vida, ou o Fado, ou Deus, nos leva, porém tem uma parte do processo que é só nossa, exclusivamente nossa, individual.
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NO YOUTUBE:
MY WAY:
--Elvis Presley - http://www.youtube.com/watch?v=4HhAcvlCPb4
--Sinatra/Pavaroti-http://www.youtube.com/watch?v=lBhGLIDXAZQ
--P.Anka-http://www.youtube.com/watch?v=vj10KWPXew4&feature=related
COMME D'HABITUDE:
--Claude François: http://www.youtube.com/watch?v=tadEl9y0Qdc
(Paul Anka foi sugestão da Inês Triguis)