4 de mar. de 2009

Paulistanês, uma língua própria

Cansa um pouco ouvir certas histórias de paulistanos, principalmente contadas por cariocas (“um chopes e dois pastel” é a mais antiga e - reconheçamos - verdadeira!), como é o caso do “testemunho” que quase todos eles (cariocas) gostam de dar sobre o suposto fato que qualquer paulistano, quando lhe pedem orientação de trânsito, ensina errado. Vamos esclarecer essa história de uma forma simples: pra falar com paulistano tem que conhecer a língua local.
Suponha que você queira saber como ir do “Bexiga” (onde você foi almoçar numa cantina que turista acredita ser italiana), para o cemitério da Consolação (apreciar obras de arte em cemitério - como a da foto - programa de turista, que paulistano detesta). A resposta vai ser do tipo:
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"ó meu, toca em frente até a brigadero, como se fosse no rumo do paraíso ou do arioporto, mas faz o revorteio às esquerda depois do farol da brigadeiro. E volta nesse rumo mesmo. Daí cê pega as direita no segundo farol e as esquerda no outro farol e vai no rumo do minhocão. Mas num pega ele (o minhocão) sai as direita já se preparando pra entrar às esquerda do lado da igreja da Consolação. Se você errar ali, vai parar no centrão da cidade... Daí ce sobe a Consolação mas num esquece de evitar a faixa do ônibus; num tem mais o busão no contrafluxo, mas o pardalzinho vai te multar. Lá em cima você vê o cemitério e tem uma área de parar o carro."
TRADUZINDO:
- “siga em frente, rumo Aeroporto ou (bairro) Paraíso, até o cruzamento da avenida Brigadeiro Luis Antonio. Ali faça o retorno após o semáforo e continue por esta mesma via, até o segundo semáforo. Lá entre à direita e no semáforo seguinte tome a esquerda até a via elevada, na qual você não deve entrar, permanecendo na pista da direita até o semáforo seguinte, já na esquina da Avenida da Consolação (você poderá ver a Igreja da Consolação à sua esquerda). Entre à esquerda na avenida e evite a pista exclusiva de ônibus porque radares multam quem usar essa faixa. Logo adiante você avistará o cemitério e a área de estacionamento ao lado”. Viu como é simples?

DETALHE: Na área de estacionamento do cemitério da Consolação está escrito “exclusivo para usuários deste cemitério” BRRRRRRRRRR
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NOTA: ACEITEI - DE BOM GRADO - A SUGESTÃO DA PROFESSORA MARIA LAÇALETE E TROQUEI PAULISTÊS POR PAULISTANÊS. ESSA É A FORMA CORRETA.
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4 comentários:

Tão e somente... Yvoni disse...

O paulistano é 'poliglota'... rs rs rs
Quanto à vaga, prefiro não estacionar!!!!

Grande beijo!

Tão e somente... Yvoni disse...

Em tempo (se me permite): além da diversidade 'da língua', percebo que é 'um povo' sem fronteiras, visto os vários dialétos e grafias que conseguem agregar numa única frase (pronunciada ou escrita) em tão pouco espaço de tempo e/ou métrico.

Anônimo disse...

Magoou!
sniff,sniff !!

Anônimo disse...

É evidente que a mistura de “falares” diferentes – de imigrantes e migrantes – na nossa cidade foi, ao longo de alguns anos, gerando um novo “dialeto”, com melodia (se é que existe), com pronúncia e vocabulário próprios – O PAULISTANÊS. Não resta a menor dúvida de que a contribuição dos italianos foi enorme. Esse português-italiano-acaipirado falado por uma grande parcela da população em nossa cidade foi muito bem representado por Adoniram Barbosa em seus sambas.
Gauchês, carioquês, paulistanês, lulanês e outros tantos “ÊS” ... seriam fontes de inspiração pelos nossos grandes expoentes da literatura brasileira? Como o nosso Olavo Bilac se reportaria, nos dias de hoje, a nossa Língua Portuguesa, a última flor do Lácio? Seria somente “inculta” e não bela, só “sepultura” sem nenhum esplendor?

Bem! Com todos os poréns, amo cada vez mais, a minha cidade. Amo-a pelos contrastes que caminham entre o belo e o feio, o bom e o ruim, o antigo e o moderno, a estranheza e a extravagância, a pobreza e a riqueza. Amo até a mistura de sons e de ruídos que lhe dão vida. E por amá-la tanto, aqui estou, aceitando-a com suas qualidades e seus defeitos, até com o seu PAULISTANÊS.
Laçalete - uma paulistana "adotiva"