Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?”
De forma mais direta, Ataulfo Alves já compusera um dos mais belos versos da língua portuguesa, expressão de sofisticadíssima simplicidade (proeza ao alcance exclusivamente dos poetas) ao falar de Saudades em “Meus tempos de criança”, poema-canção que tem como fecho “eu era feliz e não sabia”. É, no fundo, o sentimento de Pessoa em relação às rosas: “quero-as quando não as possa haver”.
Na sua singeleza, Ataulfo disse:
“Eu daria tudo que tivesse pra voltar aos tempos de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce, se não sai da gente essa lembrança”
Na continuação, Pessoa reitera o conceito:
“Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...”
Essa “alma pobre e fria”, mesmo não mencionada nessa forma, está no lamento de Ataulfo, recordando a inf
“Aos domingos missa na matriz / Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz / No meu pequenino Miraí
Que saudade da professorinha / Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha / Meu primeiro amor onde andará?
Eu igual a toda meninada / Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada / Eu era feliz e não sabia”
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