1 de out. de 2009

SAUDADE (II)

"...a saudade dói latejada, assim como uma fisgada no membro que já perdi".

"Saudade é o revés do parto. A saudade é arrumar o quarto de um filho que já morreu"



Meu grande ídolo na adolescência e juventude, hoje talvez tenha mais restrições que paixões em relação a Chico Buarque. Mas isso não vem ao caso, mesmo que o tema seja Saudade e eu tenha saudade de ser fã do Chico, o que se confunde com um tempo importante de minha história (que de tão pessoal - minha história - só eu conheço...). O que vem ao caso aqui, neste
contexto de saudade é a qualidade da construção dos versos, ou da tradução em letras do sentimento SAUDADE em seu lado dolorido. Chico foi muito feliz na tradução da dor de alguém infeliz...

Saudade é isso, mas não é só isso e talvez seja essa a sua magia e
sua improvável tradução em um único termo: pode refletir a lembrança feliz de momentos felizes.

É meio óbvio lembrar Casimiro de Abreu ("Meus Oito Anos"):

"Oh! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!..."


É assim: Saudade pode ser um sentimento dolorido, uma mágoa que quase impede a respiração, ou que transcende a calma; mas pode ser a doce lembrança de momentos únicos de felicidade "que os anos não trazem mais", de forma que transcende a alma.
O que não torna triste essa saudade!
Nem transforma em felicidade, o presente...

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