"Saudade é o revés do parto. A saudade é arrumar o quarto de um filho que já morreu"
Meu grande ídolo na adolescência e juventude, hoje talvez tenha mais restrições que paixões em relação a Chico Buarque. Mas isso não vem ao caso, mesmo que o tema seja Saudade e eu tenha saudade de ser fã do Chico, o que se confunde com um tempo importante de minha história (que de tão pessoal - minha história - só eu conheço...). O que vem ao caso aqui, neste contexto de saudade é a qualidade da construção dos versos, ou da tradução em letras do sentimento SAUDADE em seu lado dolorido. Chico foi muito feliz na tradução da dor de alguém infeliz...
Saudade é isso, mas não é só isso e talvez seja essa a sua magia e sua improvável tradução em um único termo: pode refletir a lembrança feliz de momentos felizes.
É meio óbvio lembrar Casimiro de Abreu ("Meus Oito Anos"):
"Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!..."
O que não torna triste essa saudade! Nem transforma em felicidade, o presente...
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