19 de jul. de 2009

FILHOS QUE VEM E VÃO

Nunca gostei da idéia de ter meus filhos longe de mim, nesse jeitão egoísta de ser pai que é marca registrada da maioria de quem conheço nesse mundão de Meu Deus. E quando o tempo insiste em passar nessa velocidade que a gente nunca acredita – e as inevitáveis separações se repetem – muitos de nós, taciturnos, ruminamos mágoas e saudades, como quem masca ignorante um chiclet amargo presenteado pelo lado negro da alma (como uma espécie de dark side da “Força” de Darth Vader).

Tolos que somos! Falta-nos entender a real mecânica da vida, bem como o tamanho exato do papel atribuído a cada um de nós, mais insignificante do que sonhamos e mais importante do que percebemos. Aliás, até conseguimos, muitas vezes, racionalizar; mas quem há de limar o casco grosso das nossos sentimentos? Ou costurar o tecido frágil de nossas emoções?

Na minha juventude houve um período em que foi moda a leitura do poeta libanês-americano Kalil Gibran e jamais esqueci o prazer que tive ao ler sua obra mais famosa, “O Profeta”, por me apaixonar pela força de seus versos desde a primeira leitura: fortes e suaves, cruéis e poéticos, duros e amorosos.

Lembrei-me de Gibran quando, 4 anos atrás, meu primogênito e sua esposa foram para os EUA (como, aliás, fizera o próprio Gibran no início do século passado); lembro-me novamente, agora, com o segundo filho – o do meio – já de passagem marcada para também estudar na América. Fica a filha caçula por perto, pronta para voar, como as pombas de Raimundo Correa (escrevi sobre o tema, aqui).

O trecho em que "O Profeta" fala dos filhos, mesmo poético, soa cruel a nós, pais, que temos dificuldade de entender nosso papel; ou que, mesmo entendendo, não conseguimos – quase nunca – que o coração concorde. Veja o que diz o profeta dos versos de Gibran:

“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da Vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas. Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar, nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós. Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.

O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria.
Pois, assim como Ele ama a flecha que voa, também ama o arco que permanece estável.”
-()-


4 comentários:

Paula Guerra disse...

nossa, que saudade me deu deste e de outros livros do Gibran, que já nem possuo mais.... muito bem lembrado

Giselle Fernandes disse...

Emílio, este trecho "Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas." dá um arrepio, uma emoção enorme em sermos pais/arqueiros, ou melhor, arcos! Apesar dos sentimentos de perda ou distanciamento, é muito bom o orgulho de lançar flechas tão bem preparadas por esse mundão, não é mesmo? Parabéns pelo blog, meu amigo! Beijão!

Emilio - Entre dois mundos disse...

No caso trata-se de flecha/bumerangue... logo volta, voce vai ver!
:)

O pinguim do cerrado disse...

...Eu nunca conseguiria sem voces!
:))
valeu pap...