11 de jul. de 2009

50 ANOS DE "EMOÇÕES"

Sábado, 11.07.2009: momentos atrás o Maracanã e uma rede nacional de TV (Globo) ligaram corações, mentes, olhos e ouvidos em Roberto Carlos que entrou em cena a bordo de um calhambeque e começou a desfilar seu tradicional (bota tradicional nisso) show de "emoções", com boas canções e não tao boas falas (mas, que importa?): 50 anos de carreira e o título de REI, o que, convenhamos, não é pouco.

Éramos meninos ainda quando Roberto começou a fazer sucesso contando a história de um velho Calhambeque e, em seguida, mandando todo mundo pro inferno. Vivíamos em Ipaussu (SP) nessa época, de forma que as "jovens tardes de domingo" da TV RECORD chegavam-nos apenas pelas ondas do rádio. Só tivemos TV em Ipaussu a partir de 1966 e, ainda assim, exclusivamente a TV Excelsior, já iniciando sua decadência. Essa TV não nos mostrava a Jovem Guarda, mas alguns de seus "expoentes" eram vistos por nós, lá no interior de São Paulo, em programas (pra usar um termo atual) "genéricos", comandados por Eduardo Araujo, ou "Os Incríveis". Roberto Carlos e sua jovem turma explodiam no Brasil - num movimento apelidado iéiéié - no vácuo do Rock'n Roll que já ganhara corações e mentes jovens em todo o universo e, naquele momento (respeitadas as limitações do rádio e da TV Excelsior) eram bem identificados em Elvis Presley, Bill Halley e Cometas, Little Richard e muitos outros que podem e merecem ser lembrados. Em meados dos anos 60 bandas como Beatles e Rolling Stones (ainda hoje rolling nas estradas) mudavam comportamentos, cabelos, roupas e padrões.
Ocorre que, no Brasil, iniciava-se um movimento pela recuperação da chamada MPB - música pop
ular brasileira, com destaque para o movimento chamado Bossa Nova, revalorização do samba, marchas e quetais. Além de Jobim, João Gilberto, Menescal, Vinicius e outros "Monstros Sagrados", um programa da mesma Excelsior ("Ensaio Geral") nos mostrava jovens promessas como Chico Buarque, Caetano e Bethania Veloso, Gil e muitos outros que se encontraram em seguida em festivais de MPB na Record.

Ante essa dualidade entre um movimento universal (rock'n roll) e um movimento nacionalista (MPB), ambos de boa qualidade musical, os moços se dividiam: uns odiavam Roberto e companhia bela; outros detestavam samba e bossa-nova. A "divisão" acabava refletindo um pouco a divisão ideológica de então: esquerda X direita, comunismo X capitalismo, reacionários X progressistas. Os que se imaginavam intelectuais, de esquerda, progressistas, em suma, "bons", aderiram ao lado nacionalista. E se proibiam de gostar de Roberto, Erasmo, Beatles e quem mais surgisse, misturando tolamente a arte e a política.

Ora, seria inconciliável ser comunista e gostar de canções de amor? Anos depois, vejo muitos desses fazendo um "mea culpa" e confessando que nas madrugadas amargas e sem testemunhas, se permitiam ouvir "essas canções". Entregavam-se às emoções de Roberto e demais românticos.

Os "outros", que ficaram do lado do "Rock iéiéié" acabaram aprendendo a gostar de MPB, apesar de, nos últimos anos, aceitarem o canto livre de sertanejos urbanos, bregas rurais e funk mulher melancia... Mas olha o preconceito ai de novo!!! Cante quem quiser, goste quem quiser... A verdade é que, lá em Ipaussu, aderimos aos dois movimentos até porque gostávamos, mesmo, é de Tonico e Tinoco, a música "caipira", antes de virar a "sertaneja urbana" da moda...

De volta ao Maracanã: já não participando de uma "corrida", ou uma disputa, mas andando na velocidade que quiser, em raia própria, Roberto Carlos hoje é mais que um cantor e compositor: é um ícone, uma identidade de gerações, um símbolo de lutas e um repositório de emoções ( "são tantas emoções"). Não é unanimidade ("toda unanimidade é burra", nos ensinou Nelson Rodrigues), mas isso, de certa maneira, é um elogio!

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5 comentários:

cris lazzari disse...

PPPPPPUUUUUUUUXXXXXXXXAAAAAAAAAA!!!


Amei o registro histórico-pedagógico e, como sempre, correto, da evolução da MPB!!!!

hummmm... pode??? faltou alguém, aquele de quem eu não sou fã... e que produziu a única amostra brasileira, com toques diabólicos, da mensagem universal... né??? Mas, como sempre: excelente!!!!beijão

Tânia disse...

Dizem que todos temos uma canção de RC em nossas vidas! Que marcaram um momento, uma dor, um amor.....tenho muitas e muitas.....
"onde vc estiver......"
Foi um show grandioso, digno do Rei!

Emilio - Entre dois mundos disse...

Excelente análise cultural e história!
"a gente gostava mesmo era de Tonico e Tinoco..." impagável!
beijo

Tão e somente... Yvoni disse...

São tantas...

De modo que coisas, atos, pessoas, sentimentos sempre se renovam...

... Outra vez!!!

Ah!... O que seria de um rei sem seus súditos!!! - Você já deixou seu legado!!!

Beijo!

Anônimo disse...

Das lembranças que trago na vida você é a saudade que eu gosto de ter...
Só um maluco pra não se emocionar com isto, cantado ao pé d'ouvido.
As lembranças voltam, e trazem uma alegria triste, mas muito,muito vivas.

Beijinho