Terminei de ler o Código da Vida, de Saulo Ramos, ex-Ministro da Justiça no Governo Sarney, entre muitos outros cargos exercidos, advogado famoso (e reconhecidamente caro), ora em fase de aposentadoria. É inegável que o Dr.Saulo tenha um estilo agradável, mordaz e instigante. No livro, se propõe (ou finge fazê-lo) a contar a história de uma demanda judicial em que atuou como advogado, envolvendo um casal em litígio pela guarda dos filhos. Mas essa história serve para gerar inúmeros pontos de partida para trazer ao leitor a sua visão de fatos da história do Brasil, desde o governo Jânio Quadros em que teve uma participação menor, até o governo Sarney onde ponteou como Ministro da Justiça, com participação ativa na Constituinte de 1988.
Trata seus amigos como clientes, isto é, defende-os de forma incansável, como é o caso de Sarney, numa parcialidade humana e compreensível. Aos desafetos, os rigores da lei, sem atenuantes! Partidários do governo atual (segundo o IBOPE mais de 2/3 da população), não deverão achar muita graça no compêndio! Bordoadas são distribuídas com vontade...
Valoriza sua participação na Constituinte, reclamando alguns méritos que historiadores e jornalistas mais apressados não lhe atribuem, ao menos com a ênfase que gostaria. Sarcástico e às vezes cruel, o autor vai de Brodowsky onde nasceu aos dias atuais, numa saborosa desordem cronológica que cria pequenos quebra-cabeças para o leitor, tornando a identificação da época da qual fala, a cada capítulo, um teste de identificação.
Uma leitura interessante. Claro que, como bom advogado – e talvez a demonstrar essa qualidade – faz mergulhos rápidos pela economia e não faria parte do G4 (o grupo dos 4 melhores, que se classificam para etapas posteriores em um campeonato de futebol), caso disputasse um campeonato de Economia. Mas isso é uma parte menor do livro e não tira seu mérito, em hipótese alguma. Merece ser lido.