28 de dez. de 2008

ANGÚSTIAS DE REVEILLON

O que é essa “angústia” que a gente tanto fala e tanto sente? Será aquele copo de medo, com uma pitada de impotência, que se bebe sem parar a caminho do cadafalso?
Tem cheiro de saudade do tudo e do nada; tem sabor de tristeza pelo fato em Si, pelo fado em Fá, pela vida em Dó...
Um buquê de emoções que preferiríamos não portar, jamais. Mas que é inescapável, como a morte!
Adão angustiou-se, por medo, após pecar, segundo o relato bíblico do primeiro ser humano. E logo depois foi desterrado do Paraíso e começou a morrer, como sabia ter se tornado inevitável!
Estou seguro que nem toda angústia leva à morte, mas acredito piamente que toda morte seja precedida de angústia. Por isso é que, comumente, associamos nossos momentos angustiosos, com morte.
O próprio Cristo sentiu angústia, no Getsêmani, tão intensa, que suou sangue, na véspera de Sua crucificação profetizada e necessária (por nós, não por Ele)! Que Ele sabia ser inevitável.
Angústia produz calafrios, febre, seca a boca, faz doer a cabeça e as juntas. Mas também faz perdoar, minimizar algo que já causou engasgo em um relacionamento; que já forçou uma mudança de caminho, uma saída, um abandono... Quando angustiados, tudo muda de tamanho!
Florbela Espanca, a poetiza lusitana, chegou a fazer uma certa exaltação de sua própria angustia: “há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!”. Suicidou-se aos 36 anos, em 1930...
O fim de ano, de cada ano de vida ou do calendário, nos traz uma dose extra de angústia, por forçar a lembrança do inexorável tempo, que nos aproxima da tumba. O calendário – essa convenção humana – se tem o dom, sempre louvado, de nos sugerir uma chance de recomeçar, de refazer, de repensar, também nos traz a lembrança que a viagem continua, os passos não param. E que o verdugo já afia sua lâmina...

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3 comentários:

Inês disse...

Ano Novo...esperanças de que dias melhores virão...é sempre a mesma coisa...rsrs....
beijos

EMILIO GAROFALO FILHO disse...

Ano novo é uma chance de renovar a esperança;
É totalmente simbólico, mas lembra que se um ano pode começar a recontar, a gente também pode se reinventar, se refazer, recomeçar...
Parece óbvio, mas akgumas obviedades têm que ser repetidas até que alguém preste atenção...

Anônimo disse...

Ainda bem que já acabou!